Caros diocesanos.
A quaresma, desde antiga tradição eclesial, ajuda a preparar-nos para a Páscoa.
Este tempo é favorável à conversão do coração, voltando-nos mais a Deus e aos
irmãos/ãs. Por isso, desde 1964, a CNBB convoca os fiéis para uma Campanha da
Fraternidade, neste tempo litúrgico, para concretizar o ser fraterno em uma
determinada realidade do nosso país. Como já vimos anteriormente, em 2022,
aborda-se o tema da Fraternidade e Educação. Em mensagens anteriores já
refletimos, no texto-base da CNBB, a temática do escutar e hoje continuamos na etapa do discernir, na metodologia do escutar-discernir-agir.
Tendo escutado a
realidade da educação, somos desafiados a uma tomada de posição, à luz da fé.
Entre a escuta e a ação é preciso discernir.
Este discernimento se guiará pela Palavra de Deus, pela Tradição cristã e pelo
Magistério da Igreja. Nossa referência primeira, portanto, será Jesus Cristo.
Os discípulos se dirigem a ele como Mestre que ensina com autoridade, ou seja,
diz e pratica. Jesus não ensina somente com palavras; seu ensinamento é também
relacional, de proximidade, despertando o discernimento entre os
interlocutores, levando-os a mudar seu modo de pensar e agir. Ele sabe escutar
e apontar caminhos: “Os discípulos e
discípulas, marcados pelas lições aprendidas com o Mestre, testemunhavam em sua
ação missionária a pedagogia do amor, do diálogo, da compaixão e do cuidado com
a vida” (TB 55). Muito cedo a Igreja percebeu a educação como elemento
essencial de sua missão, na família e na comunidade, colaborando para a
edificação de uma sociedade mais fraterna e justa: “Os discípulos missionários educadores, no decorrer dos séculos,
encarnaram a Boa-Nova do Reino na aspiração de educar e formar as novas
gerações para verdadeiramente assumirem seu protagonismo no mundo. À luz da fé
em Jesus, mestre e educador, a missão educativa dos discípulos missionários tem
sido promover a fraternidade a partir da força transformadora do Evangelho”
(TB 168).
Há horizontes que
são próprios da educação cristã. Ela se orienta pelo objetivo de formar a
pessoa humana em todas as suas dimensões. Assim sendo, o ser humano está aberto
à transcendência, considerado único, irrepetível, dotado de riqueza subjetiva.
Por isso não pode ser instrumentalizado por nenhum motivo. A dignidade, a
unidade e a igualdade de todas as pessoas ordenam ações humanas em vista do bem
comum, princípio para a vivência da fraternidade e condição para a vida em
sociedade.
O processo
educativo faz parte integrante das relações familiares. Cabe à família, em
primeiro lugar, mas não somente a ela, o direito e a responsabilidade de
educar. É nela que aprendemos os valores humanos, cívicos, éticos e espirituais
básicos. É no contexto familiar que fazemos a primeira experiência de viver e
conviver, amar e ser amado; é o lugar privilegiado para crescer em sabedoria,
idade e graça, como Jesus. Os pais são desafiados a serem também os primeiros
catequistas da fé cristã, os quais proporcionam também a participação no
processo da catequese de Iniciação à Vida Cristã na comunidade. Neste contexto,
o Papa Francisco adiciona também a responsabilidade da escola: “A missão da escola é desenvolver o sentido
do verdadeiro, o sentido do bem e o sentido do belo” (TB 213). Partindo da
beleza das criaturas, pode-se chegar a ver e perceber, por analogia, o seu
Criador.
Na próxima
mensagem, concluiremos o resumo do texto-base da Campanha da Fraternidade deste
ano com o agir, dentro da metodologia do escutar-discernir-agir. Abençoada
quaresma.
Dom Aloísio
Alberto Dilli
Bispo de Santa
Cruz do Sul