Caros diocesanos. Mesmo sendo outubro o mês dedicado às missões, continuamos o tema anterior da Palavra de Deus, apresentando hoje o documento 97 da CNBB: “Discípulos e Servidores da Palavra de Deus na Missão da Igreja” (2012), que tem como objetivo primeiro revelar a presença da Pessoa de Jesus Cristo na Palavra de Deus, o Verbo que se fez carne e habitou entre nós (cf. Jo 1, 14). Contém três capítulos, inspirados no Documento de Aparecida (2007) e na Exortação Apostólica Pós-Sinodal Verbum Domini, de Bento XVI (2010): O primeiro capítulo ocupa-se com a manifestação e a busca de Deus que deseja dialogar com o ser humano, chegando ao ponto máximo com a encarnação de Jesus Cristo, o rosto encarnado da Palavra; O segundo capítulo mostra que o encontro com a Palavra (Jesus Cristo) suscita resposta de gratidão, na acolhida e no testemunho da mesma; O terceiro capítulo indica que a animação bíblica da pastoral se realiza a partir de propostas práticas para a formação, a oração e o anúncio. Esse dinamismo responde às necessidades e desafios para que a Palavra possa ser fonte de renovação em nossas comunidades. A introdução do documento nos apresenta bela e animadora síntese do mesmo: “Convida-nos a contemplar, com maior amor, o rosto da Palavra, Jesus Cristo. Faz-nos entrar, com imensa alegria, na casa da Palavra, a Igreja. Leva-nos a trilhar, com revigorado ardor, os caminhos da Palavra, a missão” (n. 3).
Uma das principais intenções do documento é a passagem de uma compreensão instrutiva da Palavra de Deus, que a razão e a vontade humana devem acolher pela fé, para uma compreensão comunicativa, em que a salvação acontece a partir de um encontro, de forma dialógica, comunicativa. Não se trata de apenas aderir à doutrina de Jesus Cristo, mas à sua Pessoa. Deus quer encontrar-se com a pessoa humana e transformá-la à sua imagem e semelhança, salvá-la; quer entrar em comunhão com ela. Por isso sua Palavra é ação, acontecimento (dabar): ela é viva e eficaz, sob o agir do Espírito Santo. Esse encontro com a Palavra se realiza, de forma privilegiada, nas celebrações litúrgicas da Igreja, casa da Palavra.
Se a revelação é entendida como encontro e diálogo em vista da comunhão divino-humana, igualmente tornam-se necessárias a abertura e a adesão do ser humano; o primado da graça exige resposta de fé, não como ideia, mas como submissão livre à Palavra escutada e acolhida. A fé é a ponte que possibilita “o encontro entre Deus que busca e o ser humano que se deixa encontrar” (n. 23). Assim a fé torna-se encontro com uma Pessoa, à qual se confia a própria vida. Segundo S. Atanásio: “Deus faz-se homem, para divinizar o homem” (n.25). Não pode haver discípulo, sem que o Senhor lhe tenha dirigido a Palavra e ela tenha encontrado resposta consciente e livre, como um sim que compromete. Assim compreendida, “a Palavra de Deus precisa ser a inspiração de todo o ser e agir evangelizador eclesial” (n. 34). Isso pode ser realizado através dos eixos da formação (conhecimento e interpretação da Palavra), da oração (comunhão e oração com a Palavra) e do anúncio (evangelização e proclamação da Palavra). As linhas práticas de ação, orientadas pela animação bíblica de toda a pastoral, envolvem os membros do Povo de Deus na sua totalidade: leigos, consagrados/as, ministros ordenados. Todo cristão é chamado ao testemunho de acolhida e vivência da Palavra, pois a “A Igreja funda-se sobre a Palavra de Deus, nasce e vive dela” (VD 3). Que os ricos documentos da Igreja sobre a Palavra de Deus sejam estímulo na vida e missão de nossa diocese, particularmente na catequese, na liturgia e no testemunho da caridade.
Dom Aloísio A. Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul.