Caros diocesanos. Já vimos anteriormente que o Papa Francisco emitiu uma Exortação Apostólica, chamada Querida Amazônia. O documento se dirige a todo mundo e espera que a Igreja adquira sempre mais rostos multiformes de enculturação. O Papa apresenta 04 sonhos: social, cultural, ecológico e eclesial.
Nas mensagens anteriores, contemplamos o sonho social e cultural, hoje abordaremos mais o sonho ecológico. Quando há relação estreita entre o ser humano e a natureza, onde tudo está interligado, a vida se torna cósmica. Assim, cuidar da vida é cuidar do seu meio ambiente e defendê-lo. Como dizia Bento XVI: “Ao lado da ecologia da natureza, existe uma ecologia que podemos designar ‘humana’, a qual, por sua vez, requer uma ‘ecologia social’” (cf. QA 41). Para os nativos, “abusar da natureza significa abusar dos antepassados, dos irmãos e irmãs, da criação e do Criador, hipotecando o futuro”; porque dizem eles: “Somos água, ar, terra e vida do meio ambiente criado por Deus... as multinacionais cortaram as veias da nossa ‘Mãe Terra’” (QA 42).
A água é a rainha da Amazônia, centrada no grande rio Amazonas: rios, córregos são como veias e toda forma de vida brota dela. O grande rio, em meio à extensa floresta, não separa os habitantes nativos, mas os une para conviver entre diferentes culturas e línguas. Mas esta harmonia está ameaçada pela visão tecnocrata e consumista: “Tanta riqueza de vida e de tão grande beleza estão ‘tomando o rumo do fim’” (cf. QA 43-47).
O equilíbrio da terra também depende da Amazônia: diversidade das florestas, ciclos das chuvas, equilíbrio do aquecimento global e do clima, além de grande diversidade de seres vivos. A eliminação da floresta cria territórios desérticos. Por isso, o documento afirma: “O interesse de algumas empresas poderosas não deveria ser colocado acima do bem da Amazônia e da humanidade inteira... O ambiente como ‘recurso’ corre o perigo de ameaçar o ambiente como ‘casa’” (cf. QA 48).
Na Amazônia existem interesses econômicos de empresários e políticos locais e internacionais. A solução não está na internacionalização, mas a responsabilidade dos governos nacionais torna-se mais grave: “Intervir no território de forma sustentável, preservando ao mesmo tempo o estilo de vida e os sistemas de valores dos habitantes... Criar um sistema normativo que inclua limites invioláveis e assegure a proteção dos ecossistemas...” (QA 50-52).
Os povos nativos da Amazônia nos ensinam que é possível contemplar a Amazônia e não apenas analisá-la; podemos amá-la e não apenas usá-la. Podemos sentir-nos unidos a ela e não só defendê-la: “E então a Amazônia tornar-se-á nossa como uma mãe... Se entrarmos em comunhão com a floresta, facilmente a nossa voz se unirá à dela e transformar-se-á em oração...” (QA 55-56). Não haverá uma ecologia sã e sustentável se não mudarem as pessoas e seu estilo de vida: “menos voraz, mais sereno, mais respeitador, menos ansioso, mais fraterno... Quanto mais vazio está o coração da pessoa, tanto mais necessita de objetos para comprar, possuir e consumir” (cf. QA 58-59). A Igreja quer contribuir para o cuidado e crescimento da Amazônia.
Na parte final do documento, o Papa Francisco, depois de valorizar e estimular a significativa presença feminina na evangelização da Amazônia, afirma que os indígenas se encontram com Jesus Cristo por muitos caminhos, mas o caminho, por excelência, é o mariano. Na conclusão apresenta uma bela oração, dirigida à Virgem Maria, A Mãe que Jesus Cristo nos deixou, com o título: A Mãe da Amazônia.
Dom Aloísio Alberto Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul.