Caros
diocesanos. Para nós cristãos, setembro é considerado Mês da Bíblia. Assim a Igreja deseja valorizar a Palavra de Deus,
tanto no processo de formação, quanto de celebração e de compromisso
missionário. Ao destacar a importância da Palavra de Deus, ela pretende colocar
o seu povo em diálogo com o Deus vivo; Aquele que busca o ser humano, fala ao
seu povo e faz aliança com ele; que deseja encontrar-se com a pessoa humana
para fazê-la participante de sua vida divina. Não porque Ele tivesse
necessidade de nós, mas porque nos ama e nós precisamos dele.
Entre os meios
privilegiados de encontro com o Senhor, a Palavra recebe destaque particular,
pois é Ele mesmo que fala quando se leem as Sagradas Escrituras na Igreja (cf. SC
7), tornando a Palavra viva, eficaz e eterna (cf. Is 55,10-11; Hb 4, 12; 1Pd
1,23; 1Ts 5,24). Ela deixa de ter simples caráter doutrinário ou orientativo,
pois nela podemos encontrar-nos com Alguém, que tem identidade, rosto e nome:
Jesus Cristo, o Verbo (a Palavra) que
se fez carne e habitou entre nós (cf. Jo 1,14). Por isso, a Igreja afirma: “Sempre Cristo está presente em sua Palavra...
A Palavra de Deus, portanto, constantemente anunciada na Liturgia, é sempre
viva e eficaz pelo poder do Espírito Santo e manifesta aquele amor ativo do Pai
que jamais deixa de agir entre os homens e as mulheres” (OLM 4). Bento XVI
acrescenta, no documento Verbum Domini:
“A Igreja funda-se sobre a Palavra
de Deus, nasce e vive dela” (VD 3). Em conseqüência, no mesmo
documento, o Papa enfatiza: “Que a Bíblia
não permaneça uma Palavra do passado, mas uma Palavra viva e atual” (VD 5).
Na sua
história milenar a Igreja sempre honrou a Palavra de Deus e o Mistério
eucarístico com igual veneração, mesmo que não lhe tenha dado o mesmo valor de
culto (cf. DV 21; OLM 10 e VD 55). No momento presente nós temos a graça de
viver uma nova primavera da Palavra de Deus na vida e missão da Igreja. Estamos
num tempo privilegiado para tributar à Palavra de Deus o seu justo sentido e
valor. Precisamos, portanto, recuperar sempre mais o valor próprio das
Celebrações da Palavra, em suas diversas formas (Liturgia das Horas, Leitura
Orante, Celebrações Comunitárias da Palavra de Deus). Não queremos dar-lhe
somente um “caráter supletivo”
e nem vamos atribuir-lhe caráter
substitutivo em relação à Eucaristia e demais sacramentos. Entendemos
que há formas diferentes de presença do mesmo Cristo-Sacramento. Já o Concílio
Ecumênico Vaticano II, através da constituição dogmática Dei Verbum, atribui à Palavra de Deus um valor litúrgico
extraordinário, quando afirmou que a tradição da Igreja “sempre venerou as Sagradas Escrituras da mesma forma como o próprio
Corpo do Senhor, já que principalmente na Sagrada Liturgia, sem cessar toma da
mesa tanto da Palavra de Deus quanto do Corpo de Cristo o pão da vida e o
distribui aos fiéis...” (DV 21). O Documento de Aparecida igualmente
valoriza a presença pascal do Senhor na celebração da Palavra de Deus,
sobretudo para os fiéis impossibilitados de participar da eucaristia: “Podem alimentar seu já admirável espírito
missionário participando da ‘celebração dominical da Palavra’, que faz presente
o Mistério Pascal no amor que congrega (1Jo 3, 14), na Palavra acolhida (cf. Jo
5,24-25) e na oração comunitária (cf. Mt 18,20)” (DAp 253).
A nova
primavera da Palavra de Deus, que está se descortinando, seja motivo para
crescermos no seu conhecimento (doutrina,
formação); torne-se a palavra preferida de nossa oração (celebrações litúrgicas, leitura orante); seja ela fonte que
nos envia em missão evangelizadora,
como discípulos missionários (palavra e testemunho de vida).
Dom Aloísio A. Dilli - Bispo
de Santa Cruz do Sul