Caros diocesanos.
Continuamos nossa caminhada quaresmal para a Páscoa. Desejamos celebrar o
mistério pascal em nossa vida e por isso buscamos a conversão de tudo o que nos
afasta de Deus e dos irmãos e irmãs. Para tal, inspiramo-nos na Sagrada
Escritura, sobretudo no mandamento do amor que Jesus nos ensinou por palavras e
pela doação de sua vida por nós.
A Campanha da
Fraternidade proposta pela CNBB é um modo bem brasileiro para vivermos a
quaresma, de forma bem concreta. Todos os anos, ela nos aponta para determinada
realidade que precisa de conversão, de mudança. Em 2023, o destaque é
fraternidade e fome. Não podemos ignorar ou permanecer indiferentes diante de
tantos irmãos e irmãs que passam fome e não tem vida digna, sofrendo sérias
consequências no presente e no futuro, como acentuamos na mensagem anterior.
Para a solução do problema da fome, não bastam ações ocasionais ou de ajudas
emergenciais, por mais importantes que possam ser, mas é necessário corrigir
questões estruturais que provocam a constante situação de fome, como já
frisamos em mensagens anteriores.
Em sentido
positivo, também percebemos que, além de políticas sociais públicas de combate
à fome e de busca de vida digna para todos, muita gente luta contra a fome.
Inúmeras Igrejas, movimentos sociais, ONGs e outras instituições se empenham no
combate à fome. É fundamental que se busquem parcerias para ganhar força e
visibilidade para que novas iniciativas surjam. Entre as instituições mais
conhecidas, citamos: Cáritas Brasileira, Pastoral da Criança, Sociedade São
Vicente de Paulo, Campanhas e Projetos de Solidariedade da CNBB e outras
Igrejas. Surgem igualmente experiências de Economia Solidária: “É um jeito diferente de produzir, vender,
comprar e trocar o que é preciso para viver. Sem explorar os outros, sem querer
levar vantagem, sem destruir o ambiente” (TB, n.103). Torna-se uma forma de
organização em cooperativas, associações, clubes de troca, redes de cooperação
que realizam atividades de produção, prestação de serviços, finanças solidárias,
trocas, comércio justo e consumo solidário. Trata-se de uma economia
colaborativa e não competitiva. Desta forma, busca-se uma economia ou cultura
de comunhão. Neste contexto, surge a chamada Economia de Francisco e Clara,
através da qual o Papa Francisco convoca, sobretudo os jovens, para repensar e
humanizar a economia, tornando-a mais justa e sustentável, assegurando um novo
protagonismo para os pobres.
Diante do quadro
da fome em nosso País, precisamos reconhecer que muitos não têm vida e vida em
plenitude, como Jesus deseja para todos (cf. Jo 10, 10): “Ainda não somos verdadeiramente irmãos e irmãs! Nosso País não é ainda
nossa Casa Comum! Não formamos uma só família, dos filhos e filhas de Deus! Se
assim fosse, a ganância, o individualismo, o domínio dos interesses individuais
e, sobretudo, a fome não existiriam entre nós, ceifando vidas” (TB, n.
112).
Através da
Campanha da Fraternidade, ao defender os interesses do pobre e do faminto, a
Igreja emite um claro sinal profético, pois a fome ofende a Deus. Acrescenta o
texto-base que a solução deve ser encontrada em políticas públicas eficazes,
pois não basta apenas a solidariedade.
Desejamos boa
caminhada quaresmal a todos e todas. Na próxima semana abordaremos a Campanha
da Fraternidade, à luz da Sagrada Escritura, segundo o texto-base que estamos
refletindo.
Dom Aloísio
Alberto Dilli – Bispo de Santa Cruz do Sul