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14/03/2023 - QUARESMA E CAMPANHA DA FRATERNIDADE - 03

Caros diocesanos. Continuamos nossa caminhada quaresmal para a Páscoa. Desejamos celebrar o mistério pascal em nossa vida e por isso buscamos a conversão de tudo o que nos afasta de Deus e dos irmãos e irmãs. Para tal, inspiramo-nos na Sagrada Escritura, sobretudo no mandamento do amor que Jesus nos ensinou por palavras e pela doação de sua vida por nós.

A Campanha da Fraternidade proposta pela CNBB é um modo bem brasileiro para vivermos a quaresma, de forma bem concreta. Todos os anos, ela nos aponta para determinada realidade que precisa de conversão, de mudança. Em 2023, o destaque é fraternidade e fome. Não podemos ignorar ou permanecer indiferentes diante de tantos irmãos e irmãs que passam fome e não tem vida digna, sofrendo sérias consequências no presente e no futuro, como acentuamos na mensagem anterior. Para a solução do problema da fome, não bastam ações ocasionais ou de ajudas emergenciais, por mais importantes que possam ser, mas é necessário corrigir questões estruturais que provocam a constante situação de fome, como já frisamos em mensagens anteriores.

Em sentido positivo, também percebemos que, além de políticas sociais públicas de combate à fome e de busca de vida digna para todos, muita gente luta contra a fome. Inúmeras Igrejas, movimentos sociais, ONGs e outras instituições se empenham no combate à fome. É fundamental que se busquem parcerias para ganhar força e visibilidade para que novas iniciativas surjam. Entre as instituições mais conhecidas, citamos: Cáritas Brasileira, Pastoral da Criança, Sociedade São Vicente de Paulo, Campanhas e Projetos de Solidariedade da CNBB e outras Igrejas. Surgem igualmente experiências de Economia Solidária: “É um jeito diferente de produzir, vender, comprar e trocar o que é preciso para viver. Sem explorar os outros, sem querer levar vantagem, sem destruir o ambiente” (TB, n.103). Torna-se uma forma de organização em cooperativas, associações, clubes de troca, redes de cooperação que realizam atividades de produção, prestação de serviços, finanças solidárias, trocas, comércio justo e consumo solidário. Trata-se de uma economia colaborativa e não competitiva. Desta forma, busca-se uma economia ou cultura de comunhão. Neste contexto, surge a chamada Economia de Francisco e Clara, através da qual o Papa Francisco convoca, sobretudo os jovens, para repensar e humanizar a economia, tornando-a mais justa e sustentável, assegurando um novo protagonismo para os pobres.

Diante do quadro da fome em nosso País, precisamos reconhecer que muitos não têm vida e vida em plenitude, como Jesus deseja para todos (cf. Jo 10, 10): “Ainda não somos verdadeiramente irmãos e irmãs! Nosso País não é ainda nossa Casa Comum! Não formamos uma só família, dos filhos e filhas de Deus! Se assim fosse, a ganância, o individualismo, o domínio dos interesses individuais e, sobretudo, a fome não existiriam entre nós, ceifando vidas” (TB, n. 112).

Através da Campanha da Fraternidade, ao defender os interesses do pobre e do faminto, a Igreja emite um claro sinal profético, pois a fome ofende a Deus. Acrescenta o texto-base que a solução deve ser encontrada em políticas públicas eficazes, pois não basta apenas a solidariedade.

Desejamos boa caminhada quaresmal a todos e todas. Na próxima semana abordaremos a Campanha da Fraternidade, à luz da Sagrada Escritura, segundo o texto-base que estamos refletindo.

Dom Aloísio Alberto Dilli – Bispo de Santa Cruz do Sul