Caros diocesanos. Em diversas mensagens anteriores refletimos sobre a eucaristia que torna o Senhor morto e ressuscitado presente entre nós. Essa forma de presença real e permanente merece destaque especial, mesmo que não seja a única forma de o Senhor se manifestar em sua Igreja. A Sacrosanctum Concilium, primeiro documento do Concílio Vaticano II, afirma a presença de Cristo nas ações litúrgicas, destacando a eucaristia e demais sacramentos, mas não como forma exclusiva, pois está também na Palavra: “... é ele mesmo que fala quando se leem as sagradas escrituras na Igreja”; e acrescenta a presença na comunidade reunida na fé, em oração: “está presente finalmente quando a Igreja ora e salmodia, Ele que prometeu: ‘onde dois ou três estão reunidos...’ (Mt 18, 20)”. Presente se faz também na pessoa do ministro (SC 7).
Quando falamos em presença de Cristo na eucaristia, costumamos usar a expressão “presença real”. Como, então, serão as outras presenças, não seriam “reais”? O Papa Paulo VI na encíclica “Mysterium Fidei” (n. 39) diz que essa presença não é por exclusão, mas por excelência, ou seja, por uma razão própria, por mudança de substância. Há uma diferença quanto ao modo de ser real. Na eucaristia temos uma presença real permanente, o Corpo e o sangue de Cristo permanece. Nas outras celebrações litúrgicas a presença de Cristo é transeunte, isto é, ligada ao momento celebrativo.
Diz a Instrução “Partir de Cristo” que existe uma multiplicidade de presenças que, de maneira sempre nova, precisam ser descobertas: “Ele está realmente presente na sua Palavra e nos Sacramentos, de modo especialíssimo na Eucaristia. Vive na sua Igreja e se torna presente na comunidade dos que se reúnem em seu nome. Está diante de nós em cada pessoa, identificando-se de modo particular com os pequeninos, os pobres, os que sofrem e os que são mais necessitados. Vem ao nosso encontro em todo e qualquer acontecimento alegre ou triste, na prova e no gozo, na dor e na enfermidade. A santidade é o fruto do encontro com ele nas muitas presenças onde podemos descobrir o seu rosto de Filho de Deus, um rosto sofredor e, ao mesmo tempo, o rosto do Ressuscitado...” (PdeC 23). Continuando a refletir sobre essas formas de presença do Senhor entre nós, podemos citar um dos Prefácios do Advento: “Agora e em todos os tempos, ele vem ao nosso encontro, presente em cada pessoa humana, para que o acolhamos na fé e o testemunhemos na caridade, enquanto esperamos a feliz realização de seu Reino” (Advento 1A). Também o Documento de Aparecida nos ajuda a descobrir as formas privilegiadas de encontro com Jesus Cristo: na fé recebida e vivida na Igreja; na Sagrada Escritura, proclamada e celebrada na Igreja; na Sagrada Liturgia – a Eucaristia como lugar privilegiado do encontro do discípulo com o Senhor; no sacramento da Reconciliação, pela experiência do perdão misericordioso; na oração pessoal e comunitária que alimenta a amizade com Deus; na comunidade viva na fé e no amor fraterno, nos Pastores e naqueles que dão testemunho de luta pela justiça, pela paz e pelo bem comum; de modo especial nos pobres, aflitos e enfermos; na piedade popular, em Maria – discípula missionária, nos apóstolos e nos santos e santas. (cf. DAp 246-275). Eis uma abundância de oportunidades de encontro com Jesus Cristo, que nos colocam em comunhão com Ele e nos tornam discípulos missionários seus (cf. DAp 245).
Dom Aloísio Alberto Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul