Estimados diocesanos. Estamos iniciando a quaresma em nossa vida cristã. Desde os primórdios do cristianismo (séc. IV) esse tempo surge com o objetivo de preparar a Páscoa, celebração central do Ano Litúrgico. A quaresma, que inicia na quarta-feira de cinzas, sempre recebeu um caráter de penitência e de conversão de vida. Por isso a Igreja propõe aos fiéis alguns exercícios físico-espirituais, inspirados no evangelho: jejum, esmola e oração (Mt 6, 1-18). O Jejum convida para um esvaziamento, uma abstenção para despertar a fome de Deus e a disposição de saciar a fome dos irmãos e irmãs em necessidade. A Esmola consiste no gesto da partilha, da entrega e do cuidado. O amor e a misericórdia se tornam concretos, indo ao encontro do outro para partilhar; é o gesto de sair de si para cuidar de quem precisa mais do que nós. Na quaresma até fazemos a Campanha da Fraternidade, ou seja, uma campanha para sermos mais fraternos, mais irmãos e irmãs. A Oração: ao escutarmos e meditarmos a realidade que nos cerca, sobretudo a partir da Palavra de Deus, é despertada em nós a necessidade da prece, da oração. Na sua Palavra Deus se revela como amor e misericórdia infinita, o que nos faz louvar e agradecer, assim como suplicar a força e a graça para sermos discípulos missionários desse amor, manifestando o espírito da fraternidade aos irmãos.
Como percebemos acima, o evangelho nos impulsiona ao encontro de Deus e dos irmãos. A Igreja do Brasil, através da CNBB, para ser fiel a este apelo propõe em cada quaresma uma temática social concreta que revela necessidade de conversão, a partir da qual se faz uma Campanha da Fraternidade. Em 2019 o tema escolhido é: “Fraternidade e Políticas públicas”, tendo como frase bíblica inspiradora: “Será libertado pelo direito e pela justiça” (Is 1, 27). O objetivo da campanha foi assim estabelecido: “Estimular a participação em Políticas Públicas, à luz da Palavra de Deus e da Doutrina Social da Igreja, para fortalecer a cidadania e o bem comum, sinais de fraternidade” (cf. Texto-Base da CF, p. 8).
O que entendemos por Políticas Públicas? São as ações discutidas, aprovadas, programadas e executadas para que todos os cidadãos e cidadãs possam ter uma vida digna. Consistem, portanto, na busca de soluções específicas para necessidades e problemas da sociedade, através das quais o Estado busca garantir segurança, ordem bem-estar, dignidade, por meio de ações concretas, baseadas no direito e na justiça, como lembra o profeta Isaías. No entanto as Políticas Públicas não competem somente ao Estado, mas também deve acontecer na relação das instituições e dos diversos participantes envolvidos na solução de determinados problemas, seja em nível individual ou coletivo.
Assim percebemos que a Igreja, Povo de Deus, tem uma importante missão na transformação do mundo segundo o plano de Deus. Os batizados em sua missão no mundo participam na construção de Políticas Públicas que construam fraternidade, inspiradas no direito e na justiça.
Desejamos Boa quaresma para todos e uma Campanha da Fraternidade cheia de gestos concretos e fraternos.
Dom Aloísio Alberto Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul