No mês de agosto, a Igreja Católica no Brasil convida suas comunidades a abrirem espaço para aprofundarem a temática da Vocação. A motivação está na consciência de que precisamos criar condições para que a voz de Deus possa ser escutada.
Na sociedade atual é difícil de encontrar um lugar livre de um monte de ruídos. Imagino que seja por isso que demoramos tanto em distinguir a voz de Deus, abafada pelos Meios de Comunicação Social, pelas Redes Sociais e apelos do consumismo. Conforme ensinamento da Bíblia, Deus não se manifesta através do barulho, mas sim através das coisas simples e silenciosas. Foi assim que Ele se manifestou ao profeta Elias no monte Horeb (1 Rs 19). O profeta imaginava que Deus haveria de se manifestar através de um furacão, de um terremoto ou do fogo. Mas foi através de “uma suave brisa” que Deus lhe falou. Algo parecido encontramos em Jesus Cristo. Sempre que queria ter um encontro mais pessoal com o Pai, Ele se retirava para a montanha ou ao deserto (Lc 9,28).
A Igreja, ao longo da história, manteve a preocupação de criar espaços apropriados para que Deus pudesse se manifestar. O mais comum destes espaços é a oração, onde se insiste em “não multiplicar as palavras”, mas abrir o coração para que Deus possa dizer a sua palavra. Outros espaços são retiros espirituais, seminários, mosteiros, hospitais, santuários e conventos. Sem silêncio interior, dificilmente se ouvirá a voz de Deus.
Aproveitemos, pois, o mês de agosto para aprofundar os espaços de audição da voz de Deus. Reflitamos sobre a ação de Deus ao longo da história da salvação. Atenhamo-nos, por instantes, na vida das pessoas que escutaram o chamado de Deus e o seguiram nas mais variadas vocações. No primeiro final de semana, dedicado à vocação sacerdotal, olhemos para os padres que trabalharam nas nossas comunidades, batizaram as crianças, presidiram nossa primeira eucaristia, abençoaram os casamentos, fizeram as exéquias de nossos entes queridos e transmitiram a Palavra de Deus. Olhemos também para os padres que hoje estão trabalhando nas nossas comunidades. Procuremos acolhe-los com suas virtudes e em suas fragilidades. Lancemos um olhar para os nossos seminários, onde se encontram os mais próximos candidatos ao sacerdócio. Todas estes, que se tornaram padres ou são seminaristas, em algum momento da vida, ouviram o chamado de Deus e, a exemplo do jovem Samuel, disseram: “Fala, Senhor, que teu servo escuta” (1 Sm 3,10).
Que o mês das vocações reaviva a certeza de que a voz de Deus não se calou. Tal qual aconteceu no passado, Ele continua a falar e a chamar pessoas. Rezemos para que nossos jovens, nossas crianças, famílias e lideranças prestem atenção a esta voz e também tenham a humildade em repetir: “Fala, Senhor, que teu servo escuta”.
Dom Canísio Klaus
Bispo Diocesano