Caros diocesanos.
Outubro é considerado pela Igreja como o mês das missões. O Papa Francisco, em
sua mensagem anual, escolheu um tema
que se inspira na história dos discípulos de Emaús (cf. 24,13-35): “Corações ardentes, pés a caminho”, que é
também o lema do Ano Vocacional no Brasil. O citado Evangelho, segundo Lucas,
narra o retorno de Jerusalém dos discípulos confusos e desiludidos com o que lá
acontecera, pois não se realizara a esperança de seu messianismo triunfalista,
mas a morte de Jesus, numa cruz. Contudo, o encontro com Cristo na Palavra e no
Pão partido reacendeu neles o entusiasmo para pôr os pés a caminho de Jerusalém,
a fim de anunciar a Ressurreição do Senhor. Segundo o Papa Francisco, o
evangelista usa três imagens importantes no texto e que se tornam o itinerário
dos discípulos missionários de todos os tempos: corações ardentes pela Palavra
ouvida, olhos abertos para reconhecer o Senhor e colocar os pés a caminho.
Primeira imagem: Jesus aproximou-se e caminhou com eles. Seus corações
ardiam, enquanto Jesus explicava as Escrituras. Na sua grande
misericórdia, o Senhor toma a iniciativa
de estar com os discípulos. Ele nunca se cansa de estar conosco, apesar dos
nossos defeitos, dúvidas, fraquezas e de sermos pessoas de pouca fé. O Senhor é
maior do que nossos problemas, mesmo quando os encontramos ao anunciar o Evangelho
ao mundo, porque esta missão é d’Ele e nós somos simplesmente os seus humildes
colaboradores (cf. Lc 17,10).
Jesus mesmo é a Palavra viva, a única que pode fazer arder, iluminar e
transformar o coração. O Papa se dirige aos missionários, dizendo: “Caríssimos, o Senhor ressuscitado está
sempre convosco e vê a vossa generosidade e os vossos sacrifícios em prol da
missão evangelizadora... Deixemo-nos sempre acompanhar pelo Senhor ressuscitado
que nos explica o sentido das Escrituras. Deixemos que Ele faça arder o nosso
coração, nos ilumine e transforme, para podermos anunciar ao mundo o seu
mistério de salvação com a força e a sabedoria que vêm do seu Espírito”.
Segunda imagem: Os olhos se abriram e o reconheceram ao partir o pão (cf.
Lc 24,30-31). Jesus, presente na eucaristia, é ápice e fonte da missão. Ao
redor da mesa da eucaristia, quando Ele partiu o pão, os olhos dos discípulos
se abriram e o reconheceram. Mas Ele desapareceu da sua presença (cf. Lc 24,31). Afirma o Papa Francisco: “Este fato faz compreender uma realidade
essencial da nossa fé: Cristo, que parte o pão, torna-se agora o Pão partido,
partilhado com os discípulos e depois consumido por eles. Tornou-se invisível,
porque agora entrou dentro do coração dos discípulos para fazê-los arder ainda
mais, impelindo-os a retomar sem demora o seu caminho para comunicar a todos a
experiência única do encontro com o Ressuscitado”! Em consequência, cada discípulo missionário é chamado a tornar-se
como Jesus, aquele-que-parte-o-pão e aquele-que-é-pão-partido para o mundo. Esta é
a ação missionária por excelência, porque a Eucaristia é fonte e ápice da vida
e missão da Igreja. Como afirma Bento XVI: “A
Eucaristia é fonte e ápice não só da vida da Igreja, mas também da sua missão:
uma Igreja autenticamente eucarística é uma Igreja missionária” (Sacramentum
Caritatis 84). E para permanecermos unidos ao Senhor e darmos abundantes frutos
missionários, nós precisamos da oração cotidiana, particularmente da adoração. Que
o nosso coração anele sempre pela companhia de Jesus, suspirando conforme o
ardente pedido dos dois discípulos de Emaús, sobretudo ao entardecer, quando
afirmam: “Fica conosco, Senhor”! (cf. Lc 24,29).
Terceira imagem: Pés
a caminho para proclamar o Cristo Ressuscitado. Esta será nossa próxima
mensagem, na semana que vem.
Dom Aloísio Alberto Dilli – Bispo de Santa Cruz do Sul