Caros diocesanos. Neste Tempo Pascal que estamos vivendo, desejamos voltar ao tema da Iniciação à Vida Cristã no espírito catecumenal que, desde os primeiros séculos do cristianismo, vem se constituindo num caminho catequético-litúrgico que inicia as pessoas no mistério de Cristo e ajuda a amadurecer na fé e na comunhão da Igreja, tendo como meta a maturidade em Cristo. Vejamos hoje como o Papa Francisco desenvolve em sua Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (Alegria do Evangelho) os temas do querigma e da mistagogia, duas partes ou tempos importantes deste processo. O Pontífice se refere diretamente ao querigma, considerado como primeiro anúncio aos que desejam abraçar a vida cristã, e que depois deve ser aprofundado em toda vida (Cf. EG 160). Este processo não pode ser interpretado prioritariamente como doutrinal, mas de resposta e crescimento em relação ao amor de Deus, precedido como dom (Cf. EG 161-162). A educação e a catequese posterior estão a serviço deste crescimento. O Papa Francisco insiste que na catequese de espírito catecumenal tem papel fundamental o primeiro anúncio ou querigma, que deve ocupar o centro da atividade evangelizadora e de toda a tentativa de renovação eclesial. Afirma o pontífice: “Na boca do catequista, volta a ressoar sempre o primeiro anúncio: ‘Jesus Cristo ama-te, deu a sua vida para te salvar, e agora vive contigo todos os dias para te iluminar, fortalecer, libertar’... é o primeiro em sentido qualitativo, porque é o anúncio principal, aquele que sempre se tem de voltar a ouvir de diferentes maneiras...” (EG 164). O Papa faz advertência para que o querigma exprima o amor salvífico de Deus; não imponha a verdade, mas faça apelo à liberdade; seja pautado pela alegria e pelo estímulo. Isto exige do evangelizador atitudes de: “proximidade, abertura ao diálogo, paciência, acolhimento cordial que não condena” (EG 165).
Outra referência insistente que o Papa Francisco faz em relação à Iniciação à Vida Cristã é o tempo da mistagogia. A palavra mistagogia tem origem na língua grega (mystes = mistério + eagein = conduzir, guiar), significando ação de conduzir, guiar para dentro do mistério (celebrado). Esta terminologia surgiu nos primeiros séculos do cristianismo para o tempo que seguia a celebração dos sacramentos (Batismo, Crisma e Eucaristia), ocorrida na Vigília pascal. A catequese catecumenal não se concluía com a recepção dos sacramentos, mas continuava com a mistagogia: explicação detalhada dos mistérios celebrados, com sua rica simbologia e sentido, introduzindo definitivamente o fiel na comunidade cristã. Desta forma, mistagogo/a é a pessoa que conduz progressivamente para dentro do mistério. Ao falar em iniciação mistagógica, o Santo Padre entende a necessária progressividade da experiência formativa na comunidade e a valorização dos sinais litúrgicos da iniciação cristã. O Papa faz ainda referência à centralização do processo catequético na Palavra de Deus, ao ambiente favorável e à motivação atraente, ao uso dos símbolos, à integração de todas as dimensões da pessoa num caminho comunitário de escuta e resposta, sem esquecer um acento especial para o caminho da beleza. (Cf. EG 166-167). Que o querigma e a mistagogia também se prolonguem em nossa vida cristã!
Dom Aloísio A. Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul