Caros diocesanos. Estamos em plena quaresma, tempo de preparação para a Páscoa, solenidade maior do nosso Ano Litúrgico. Já celebramos a Quarta-Feira de Cinzas, que destaca o aspecto penitencial e de conversão deste tempo, e iniciamos a Campanha da Fraternidade, com o objetivo geral de tornar-nos mais sensíveis ao nosso próximo. Uma Igreja samaritana renova constantemente sua relação com os outros, sobretudo, com os irmãos mais necessitados.
Hoje desejamos iniciar uma abordagem da Palavra de Deus, ricamente distribuída nos anos A – B – C, especialmente durante a quaresma. No ano passado, a liturgia celebrou o Ano A que, na quaresma, apresenta as leituras com caráter catecumenal, inseridas no processo de Iniciação à Vida Cristã, já presentes na liturgia dos primeiros séculos do cristianismo (cf. Palavra do Bispo 2016-2017, Mensagens, nn. 29 a 33).
Em 2018, a liturgia segue o Ano B, em suas celebrações dominicais e solenidades, e o tema destacado na preparação à Páscoa é a Aliança, sobretudo nas leituras da Palavra de Deus. Vejamos como esta reflexão é realizada nos diversos domingos da quaresma:
• Primeiro Domingo da Quaresma: A leitura do Antigo Testamento (Gn 9, 8-15) narra a aliança que Deus faz com Noé e com sua descendência, salvos das águas do dilúvio. O dilúvio põe fim ao velho mundo e inicia o novo. A leitura, com o sinal do arco-íris, revela que esta aliança com a humanidade é iniciativa gratuita de Deus, é universal e eterna, supondo também a fidelidade humana. No evangelho (Mc 1, 12-15) Jesus Cristo é apresentado como aquele que é tentado no deserto, mas ele supera o mal (satanás) e revela a proximidade do Reino de Deus. Em Jesus se cumpre o tempo da salvação messiânica: nele acontece a nova e eterna aliança e por isso é urgente converter-se e crer nele. O cristão, justificado e unido a Cristo, também pode vencer o mal (morte) e alcançar a verdadeira vida (ressurreição) pelo batismo, através do qual é recriada a humanidade pela nova e definitiva aliança em Cristo. Na segunda leitura (1Pdr 3, 18-22) São Pedro faz referência à arca salvadora de Noé, comparando-a ao batismo salvador e regenerador dos cristãos, que também permite iniciar vida nova, de compromisso de uma boa consciência para com Deus.
• Segundo Domingo da Quaresma: Neste domingo da quaresma sobressai o tema da aliança, em sentido sacrifical: Deus tanto nos ama que não poupou seu próprio Filho, o qual selou a nova e eterna aliança, com o sangue derramado na cruz. A primeira leitura (Gn 22, 1-2.9ª.10-13.15-18) mostra que Abraão, o pai da fé, não hesitou em oferecer seu filho único, sobre o qual se fundava a esperança do cumprimento da promessa divina (aliança). Abraão é tipo do Pai que dá em sacrifício por nós (cruz) o seu Filho; e Isaac é tipo de Cristo, o bem supremo do Pai, oferecido em sacrifício por nós. No Evangelho da transfiguração (Mc 9, 1-9) o Pai se revela na afirmação: “Este é o meu Filho amado; ouvi-o!” (Mc 9, 7), ou seja, sede fiéis à sua aliança. O discípulo de Jesus é chamado a escutá-lo e a segui-lo com a sua cruz pelo caminho do sacrifício total de si mesmo. Na segunda leitura (Rm 8, 31b-34) São Paulo afirma aos romanos que tal é o amor de Deus que não poupou seu próprio Filho.
Nesta quaresma renovemos também nós a Aliança com Deus e os irmãos!
Dom Aloísio A. Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul