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03/04/2023 - PÁSCOA – OCASIÃO DE CONVERSÃO E DE PERDÃO

Caros diocesanos. Estamos vivendo a Semana Santa, com suas solenes celebrações que tornam presente os mistérios da morte e da ressurreição de Jesus Cristo, na vida da Igreja e do mundo. Diante do infinito amor de Deus, revelado sobretudo no sofrimento e na violenta morte de cruz, nossa tendência humana é silenciar, pois as palavras se tornam muito pobres para explicar o que aconteceu. Ao refletir sobre estes mistérios veio-me à memória o encontro do Papa Francisco, no início de fevereiro passado, com pessoas cruelmente atingidas pela guerra no Leste da República do Congo – África. Crianças, jovens e adultos narravam ao Papa as atrocidades que sofreram pessoalmente ou as presenciaram em relação a familiares ou pessoas próximas, como rapto dos bens e das próprias pessoas, quando estas não eram mortas violentamente diante delas. Meninos e meninas diziam que somente queriam a paz, e se comprometiam a perdoar seus algozes e a viver em espírito de fraternidade e reconciliação para construir um futuro melhor em seu país. Colocaram diante de Cristo crucificado os objetos das agressões e mortes, com palavras de perdão: “Perdoamos nossos algozes. Eis porque coloco diante da Cruz de Cristo vencedor o facão igual ao que matou meu pai”. Outra criança dizia: “Peço a Cristo vitorioso na cruz que toque o coração dos algozes para que libertem as outras crianças que ainda estão no mato”. Uma terceira ainda acrescentou: “Santidade, em tudo isto a Igreja continua a ser o único refúgio que cura as nossas feridas e consola os nossos corações por meio dos seus numerosos serviços de apoio e conforto”. Dentro deste contexto desastroso dos fatos já consumados, lembrei da frase de Saint-Exupery: “Ternura inútil, mas ternura. Conselhos inúteis, mas amigos” (Terra dos Homens). E mais do que isso, como cristãos, lembramos o Evangelho da Paixão, quando Jesus dizia, pendente na cruz: “Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem! (Lc 23, 34). A atitude das pessoas que narraram as crueldades, com espírito de perdão e de proposta de recomeço, fala por si e faz silenciar os corações.

O Papa Francisco ouviu os relatos angustiantes das vítimas dos conflitos, incluindo estupro, amputação, canibalismo forçado e escravidão sexual, além de outros. Tendo estas pessoas ajoelhadas diante de si, num primeiro momento, o Papa, sensivelmente abalado com as narrativas, apenas impôs carinhosamente as mãos e disse: “Diante da violência desumana que viram com seus olhos e experimentaram na própria pele, ficamos impressionados. E não há palavras; só chorar, ficando em silêncio”.

Em seguida o Papa emitiu um discurso de fortes admoestações, criticando as atrocidades como crimes de guerra: Chega! Chega de enriquecer às custas dos mais fracos, chega de enriquecer com recursos e dinheiro manchados de sangue! Com o mesmo teor, num encontro com diplomatas e outras autoridades, afirmou profeticamente: “É trágico que o continente africano padeça de várias formas de exploração. (...) Depois da exploração política, desencadeou-se um 'colonialismo econômico', igualmente escravizador. (...) Este país e este continente merecem ser respeitados e ouvidos, merecem espaço e atenção. Tirem as mãos da República Democrática do Congo, tirem as mãos da África! Chega de sufocar a África: ela não é uma mina para explorar, nem uma terra para saquear. Que a África seja protagonista do seu próprio destino! E acrescentou Francisco: “O veneno da ganância tornou os seus diamantes ensanguentados. É um drama diante do qual, muitas vezes, o mundo economicamente mais desenvolvido fecha os olhos, os ouvidos e a boca”. Finalmente, o Papa Francisco fez veemente apelo à paz, pois somente ela pode desencadear a esperança de novo futuro. A Páscoa seja ocasião de Paz para nós e toda humanidade.

Dom Aloísio Alberto Dilli – Bispo de Santa Cruz do Sul