Caros diocesanos. Esperamos que todos tenhamos iniciado o ano de 2018, com muita Paz e Bem! A experiência da Paz é fundamental para a realização plena de nossa vida. Fomos criados por Deus, a fonte da Paz, e nosso coração estará inquieto até que descanse na Paz de Deus (Santo Agostinho).
Na mensagem anterior, nós já refletimos que o conceito de paz não consiste na simples ausência de guerra ou na passiva submissão dos mais fracos ao silêncio e à servidão. Para entendermos a riqueza da palavra PAZ (Shalom, em hebraico; Salam, em árabe; Eirene, em grego), precisamos recorrer ao conceito bíblico da Paz, ou seja, a “Paz messiânica”: a meta para a qual converge a caminhada total da história; não como simples ausência de guerra, mas como bem-estar, prosperidade, justiça, plenitude de vida, perfeição. Por isso a bíblia fala que nos tempos messiânicos a “justiça e a paz se abraçarão” (Sl 85,11); os povos quebrarão suas espadas e suas lanças e as transformarão em enxadas e foices, em vez de se treinarem para a guerra e de as levantarem uns contra os outros (cf. Is 2, 4); será anunciada a paz para todos os povos (cf. Zc 9, 10). Portanto, o Messias é aguardado como o Príncipe da Paz (cf. Is 9, 5). Por isso, quando Jesus Cristo nasce, os anjos cantam: “Glória a Deus no mais alto dos céus, e na terra, paz aos homens por Ele amados”! (Lc 2, 14). É a harmonia do amor entre o divino e o humano, decantada pela liturgia como a “troca de dons entre o céu e a terra” (Missa do Natal). A Paz messiânica consiste na presença do Emanuel, o Deus conosco. Como afirma o Documento de Aparecida: “Jesus é o rosto humano de Deus e o rosto divino do homem” (DAp 392). É o mistério da encarnação, em que o divino vem unir-se ao humano, para dar sentido e valor a tudo o que envolve nossa vida. Para fazer de nossa vida uma história de salvação.
Dentro deste contexto entendemos as palavras de São Paulo, em sua carta aos Efésios, quando apresenta Jesus Cristo como aquele que acaba com as divisões, causadoras de ódios e de conflitos: “De fato, ele é nossa paz: de dois povos fez um só povo, em sua carne derrubando o muro da inimizade que os separava... Ele quis, assim, dos dois povos formar em si mesmo um só homem novo, estabelecendo a paz e reconciliando os dois com Deus, em um só corpo, mediante a cruz, na qual matou a inimizade. Veio anunciar a paz: paz para vós que estáveis longe e paz para os que estavam perto” (Ef 2, 14-17).
A Igreja, que somos todos nós, é convidada a ser constantemente um sinal desta paz entre os povos e em todas as realidades de sua vida. Como diz o Papa Francisco, é preciso construir a paz em todas as relações: “ela é um trabalho artesanal que requer paixão, paciência, experiência e tenacidade... Fazer a paz é um trabalho que se deve realizar todos os dias, passo a passo, sem nunca nos cansarmos”. Francisco lembrou que a paz é um dom de Deus, de forma que ser artesão da paz não é uma tarefa que depende só da pessoa humana: “Somente se o homem se deixar reconciliar com Deus, é que pode tornar-se um obreiro de paz”. Sejamos artesãos da paz neste ano que estamos iniciando. Comecemos conosco, em nossa casa, em nossas relações.
Dom Aloísio A. Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul.