Caros diocesanos. A
quaresma nos prepara para a Páscoa, celebração central de todo Ano Litúrgico.
Por isso o tempo quaresmal é favorável à conversão do nosso coração. É um tempo
que nos faz voltar ao que assumimos em nosso batismo, sobretudo o ter-se
tornado filho/a de Deus e irmão/ã em Cristo, portanto, comprometidos com o
mandamento do amor a Deus e ao próximo. A Campanha da Fraternidade é uma forma
de viver a espiritualidade quaresmal, mas esta última não se reduz a ela. O
apelo à conversão faz sair do individualismo, rompe com a indiferença,
incentiva a vivência da solidariedade e do diálogo como compromisso de amor. O
texto-base assim se expressa: “A Campanha
da Fraternidade tem como grande objetivo despertar a solidariedade dos fiéis em
relação a um problema concreto que envolve a sociedade brasileira, buscando
caminhos de solução à luz do Evangelho” (TB 3). Percebemos desta forma que
o evangelho tem uma necessária incidência social: “A Páscoa de Jesus Cristo deve nos levar, já nesta vida, a passar de um
mundo não fraterno, marcado pelo pecado, nas suas expressões de injustiças,
omissões e opressões, para uma sociedade de irmãos” (TB 4). É dentro deste
contexto que a Igreja deseja refletir sobre a educação em nosso país, meio
indispensável para a construção de um mundo mais justo e fraterno: “Ninguém seja excluído de um caminho
educativo integral que humanize, promova a vida e estabeleça relações de
proximidade, justiça e paz. A educação é um indispensável serviço à vida. Ela
nos ajuda a crescer na vivência do amor, do cuidado e da fraternidade” (TB
6).
O texto-base da
Campanha da Fraternidade segue o método escutar-discernir-agir.
Ao priorizar o escutar, destaca que
esta atitude é bem mais do que ouvir,
pois a primeira atitude está na linha da comunicação e a segunda, na linha da
informação. Escutar supõe proximidade que pode conduzir ao encontro, criando
relações e evitando a tranquila posição de simples espectador: “Escutar é uma condição para falar com
sabedoria e ensinar com amor” (TB 27). Importante também é escutar a
realidade, pois ela nos fala através dos acontecimentos, os quais devem ser
vistos como sinais dos tempos, segundo já afirmava o Concílio Ecumênico
Vaticano II. Jesus nos ensina a escutar com os ouvidos e com o coração para
perceber a vontade de Deus e os caminhos que podemos escolher.
O aprender faz
parte do ser humano, pois somos um constante vir-a-ser. Não é apenas uma capacidade, mas condição da própria
humanidade. A pandemia que estamos vivendo exige repensar nossos estilos de
vida, nossas relações, a organização da sociedade, inclusive o sentido da nossa
existência. Junto com avanços, muitos problemas emergiram com maior evidência,
mesmo que já existissem de forma latente: a pobreza, a desigualdade social,
novas formas de miséria e exclusão. Estamos num tempo em que precisamos recuperar
os projetos de vida, tanto individuais como sociais: “Não se pode fortalecer a ilusão de que é factível pensar e construir um
projeto individual de vida sem um projeto de sociedade, um projeto para todos”
(TB 38). Necessitamos de um projeto social que coloque no centro a pessoa
humana para um desenvolvimento integral e solidário, com cooperação e superação
das gritantes desigualdades. Neste sentido afirma o texto-base: “A mera soma dos interesses individuais não é
capaz de gerar um mundo melhor para toda humanidade” (TB 40). A recente
crise da pandemia clama por uma visão mais humanista da educação: educar para a
comunhão, com relações fraternas na sociedade e com a natureza. Esse espírito
precisa envolver todos os âmbitos da educação. Isso não se alcança com um
projeto educativo apenas técnico, pragmático e utilitário.
Dom Aloísio
Alberto Dilli
Bispo de Santa
Cruz do Sul