Caros
diocesanos. Um dos desejos fundamentais da pessoa humana é viver em estado de
paz, de harmonia. Quando a paz está ausente, nos tornamos agressivos, difíceis
de conviver e a depressão ronda nosso ser e nosso agir. Com frequência,
identificamos situações semelhantes em nossos contextos vivenciais, sobretudo
ultimamente. Onde encontrar a paz tão desejada pelas pessoas e pelos povos?
Como construir este estado de espírito e esta relação pacífica consigo mesmo,
com os outros, com o mundo criado e com o próprio Deus?
Os antigos
romanos diziam: “Si vis pacem para bellum”
(= Se queres a paz prepara a guerra).
O sentido infeliz desta frase ainda não foi revertido, pois seguidamente surgem
tiranos de nações que, para justificar um determinado status de hegemonia,
preparam-se constantemente para a guerra e não hesitam em desencadeá-la,
normalmente por motivos injustificáveis. Sacrificam-se inúmeras vidas humanas e
bens fundamentais e necessários à vida, em vista do poder, da posse e do
bem-estar.
Os cristãos
celebram o Dia Mundial da Paz, em primeiro de janeiro, ainda dentro do clima do
Santo Natal. Sabemos que esta Paz tão desejada se inspirará e terá sua origem
no Príncipe da Paz (Is 9, 5),
anunciado como o próprio Filho de Deus, Jesus Cristo, que veio habitar entre
nós. Na noite do nascimento de Jesus, os anjos cantaram: “Glória a Deus no mais alto dos céus, e na terra, paz a todos por ele
amados”! É aquele que mais tarde
vai dizer: “Deixo-vos a paz, dou-vos a
minha paz. Eu não a dou, como a dá o mundo” (Jo 14, 27). Na verdade, a paz
que tanto desejamos só pode vir daquele que é a fonte de nossa vida, pois ele é
a Paz. Dizia S. Agostinho, filósofo e teólogo do Séc. V: “Nosso coração estará inquieto, até que não descanse em Deus”
(Confissões I, 1,1).
A partir do
espírito do Natal, que ainda nos envolve, nós cristãos desejamos mudar a frase
dos antigos guerreiros romanos e que durante tantos séculos fracassou e
frustrou as expectativas humanas. Inspirados no Papa Paulo VI, hoje santo,
tendo em vista um mundo mais fraterno, justo e igualitário, também afirmamos o
princípio: “Si vis pacem para pacem”,
ou seja, “Se queres a paz, prepara a paz”.
Nós somos convidados a ser construtores da paz. É por isso que rezamos: “Senhor, fazei de mim um instrumento de vossa
paz”. Essa paz começa dentro de nós mesmos, dentro de nossas famílias, de
nossas comunidades e continua na vida da sociedade. É preciso aprender o que o
magistério da Igreja já propôs há muito tempo: a paz é fruto da justiça. Certamente teremos um mundo mais pacífico,
à medida que construirmos uma sociedade mais igualitária, sem estas diferenças
abismais entre as classes sociais. Bento XVI afirmava no Dia Mundial da Paz de
2009, ao destacar o aspecto social da construção da paz: “De fato, aparece como indiscutivelmente verdadeiro o axioma ‘combater a
pobreza é construir a paz’”. E o Papa Francisco diz: “Encorajo todos a tornarem-se
profetas e testemunhas da cultura do cuidado, a fim de preencher tantas
desigualdades sociais”
(Dia Mundial da Paz - 2021).
No início deste
ano de 2023, após a pandemia, com suas consequências, e as nefastas
polarizações que continuam a nos dividir, convidamos a todos para atitudes de
paz, enquanto a desejamos para todos, com a seguinte bênção bíblica, adotada
por São Francisco de Assis, o homem da fraternidade e da paz universal: “O Senhor vos abençoe e vos guarde! O Senhor
faça brilhar sobre vós a sua face e se compadeça de vós! O Senhor volte para
vós o seu rosto e vos dê a sua paz”!
(cf. Nm 6, 22-27). O Senhor vos abençoe, Pai e Filho e Espírito Santo. Amém!
Desejamos a todos/as: Feliz e Abençoado ANO
NOVO, com muita PAZ!
Dom Aloísio A. Dilli -
Bispo de Santa Cruz do Sul