Caros diocesanos. Estamos no período de férias e muitos têm a possibilidade de pensar sobre temas que ficam um tanto despercebidos em outras épocas, mesmo que sejam essenciais em nossa vida. Assim, hoje desejamos refletir sobre a condição de peregrino, que vive o ser humano. Nas aulas de filosofia aprendemos que a pessoa humana é um ser em devir (vir a ser), um ser em formação e transformação constante, pois nunca está pronto. Nos tempos de juventude, fase da vida em que é bem perceptível a transitoriedade, nós sonhávamos em fundar um grupo de missionários com a denominação: “Peregrinos do Infinito” ou “Ciganos de Cristo”, para indicar que estamos sempre a caminho, que não há lugar definitivo ou de chegada, neste mundo. Em sentido teológico, esta saudade e sede do infinito ou inquietação nos remetem ao que Santo Agostinho expressa, em sua profunda experiência de conversão: “Fizestes-nos para Vós e o nosso coração está inquieto enquanto não descansar em Vós” (Confissões, I, 1, 1). Nossa referência máxima, enunciada por Jesus, é o próprio Deus: “Sede, portanto, perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5, 48). Somente nele atingiremos a finalidade para a qual fomos criados. Ele é nossa casa, morada perfeita no amor. Enquanto estamos a caminho, como santos e pecadores (Oração Eucarística V), nós temos como meta estar em Deus e Ele em nós, sendo casa, um para o outro. As cartas apostólicas seguidamente saúdam os cristãos como “migrantes e forasteiros” neste mundo (cf. 1Ped 2, 11), pois sua morada está nos céus (cf. Fl 3, 20): “não temos aqui cidade permanente, mas estamos à procura da que está para vir” (Hbr 13, 14). O que nos atrasa ou impede neste caminhar para Deus é o pecado. Ele é como uma paralisia interior que nos imobiliza ou nos afasta do alvo; é o estado da mediocridade que acomoda o caminhar na direção desviada da meta de Deus.
Pelo refletido acima, nós cristãos nos damos conta que somos seres a caminho. Não estamos definitivamente em casa, onde nos encontramos. De certa forma, nos sentimos estranhos, neste mundo, pois nossa verdadeira pátria é outra. Vivemos hoje numa sociedade de consumo, onde tudo parece ser transitório, passageiro, descartável, influenciando decididamente em nossas relações com as pessoas, com as coisas e até em opções religiosas. Neste contexto, o que vale é o presente, os desejos do aqui e agora; enquanto o definitivo ou o eterno parecem excluídos do vocabulário das pessoas. A grande frustração desta constante transitoriedade é não oferecer valores seguros, perenes. Assim a pessoa humana vive em estado de insaciabilidade. Mesmo que busque constantemente novidades, ela se frustra, pois nada parece conduzir ao eterno, ao saciável, uma vez que a fragilidade humana indica para o limite, para o fim, para a morte, com a sensação de a vida ser realmente uma paixão inútil, dando razão a Sartre.
Caros diocesanos. Neste tempo de férias temos oportunidade de descansar, de encontrar amigos, familiares, de viajar, de ler, de meditar. Que este momento também permita refletir sobre a vida, seu sentido, suas relações, sua meta. O Espírito do Senhor e seu santo modo de operar nos acompanhem e nos conduzam ao encontro do verdadeiro sentido da vida. O Deus da misericórdia tenha compaixão de nós e, diante de nossa firme disposição de recomeçar sempre o caminho, que a Ele conduz, nos perdoe os desvios de rota e nos reconduza ao sentido da verdadeira vida, a qual tem destino eterno, junto com Ele e os Irmãos.
Dom Aloísio A. Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul