Caros diocesanos. Estamos no final de mais um ano de nossa história. Olhando para trás, certamente temos muito a agradecer, mas também momentos que gostaríamos de não lembrar mais. Nestes últimos dias do ano, ao fazermos a memória deste tempo, Jesus também poderia perguntar-nos, como o fez aos discípulos de Emaús: “O que andam conversando pelo caminho?” (Lc 24, 17). Teríamos muitas preocupações e esperanças a comentar com Ele, em nosso caminhar, a respeito de tudo o que aconteceu e acontece em nossa Jerusalém local ou brasileira e até mundial. Como cristãos, sem tirar os pés do chão da vida real, sabemos em quem colocamos nossa confiança (cf. 2Tm 1, 12). Jesus continua a se fazer presente em nosso peregrinar da vida, ano após ano, pois Ele é o Caminho. Seja Jesus nosso Caminho também em 2019, que já desponta no horizonte.
O termo: “Caminho” é muito importante na vida de Jesus e, consequentemente, na vida dos seus discípulos, da sua Igreja e de cada um de nós. No Evangelho de São João, Jesus é apresentado como Aquele que se identifica com “o Caminho”. Quando o apóstolo Tomé pergunta: “Senhor, não sabemos para onde vais. Como podemos conhecer o caminho?” Jesus responde: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14, 5-6). O mesmo sentido é usado por São Lucas nos Atos dos Apóstolos, quando narra a perseguição de Saulo nas comunidades cristãs: “Saulo apresentou-se ao sumo sacerdote e pediu-lhe cartas de recomendação para as sinagogas de Damasco, a fim de trazer presos para Jerusalém os homens e mulheres que encontrasse, adeptos do Caminho” (At 9, 1-2). Os primeiros cristãos já consideravam Jesus como o Caminho, aquele que conduz à comunhão com Deus, ou seja, Jesus Cristo é o caminho do divino que vem ao encontro do humano e que possibilita ao humano encontrar-se com o divino. É o sentido teológico da festa natalina, que ainda celebramos. A liturgia fala em troca de dons entre o céu e a terra.
Poderíamos usar ainda outros textos bíblicos que apresentam essa dinâmica peregrina, presente em toda vida de Jesus, que pode ser resumida num longo Caminho, desde Belém até Jerusalém, convidando permanentemente discípulos missionários e discípulas missionárias, em todos os tempos, para segui-lo. Agora chegou a nossa vez. O Papa Francisco fala de “Igreja em saída”, uma Igreja percorrendo o caminho missionário.
Estamos no tempo do Natal e ainda desejamos apresentar o que São Francisco de Assis, o criador do presépio, em Greggio – Itália, escreveu sobre o nascimento de Jesus que, segundo ele, aconteceu a caminho: “Um Menino santíssimo e dileto nos foi dado e nasceu por nós (cf. Is 9, 6) no caminho e foi colocado no presépio (cf. Lc 2, 7) porque ele não tinha um lugar na hospedaria (cf. Lc 2, 7)” (Ofício da Paixão do Senhor, 5ª parte – No Tempo do Natal do Senhor, 7). Sim, Jesus nasceu no caminho ou a caminho, na realidade dos pequenos de sua época, numa gruta de animais, nos arredores de Belém, recebendo a visita de humildes pastores.
Em cada Natal o Senhor quer nascer no caminho de nossa vida: nosso coração, família, comunidade, pastoral, escola, serviço, movimento, associação, trabalho, convivência social... Ele vem morar conosco, para ser o Emanuel: Deus conosco (Is 7, 14). Há lugar para o Senhor no caminho de nossa vida, em 2019? Caso tivermos, convidemo-lo e Ele caminhará conosco todos os dias. Abençoado Ano Novo, com sua presença.
Dom Aloísio A. Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul