Caros diocesanos. O Senhor morto e ressuscitado esteja convosco! Feliz Páscoa!
A palavra Páscoa significa “passagem”, passagem da morte para a vida. Mas o que entendem mesmo os primeiros cristãos, quando falam em ressurreição de Jesus? Para eles não se trata de simples imaginação, mas de um fato real que os tirou da perplexidade e frustração. Esta ressurreição não consiste num retorno de Jesus à sua vida anterior na terra. Ele não retornou à sua vida biológica (reencarnação), para depois morrer novamente de forma irreversível. A ressurreição não é, portanto, a reanimação de um cadáver, como aconteceu com Lázaro, com a filha de Jairo e o jovem de Naim. Com a ressurreição, Jesus entra definitivamente na Vida de Deus, onde a morte não tem mais nenhum poder. Ele não morreu para o vazio do nada, mas para a comunhão plena com Deus. Por isso afirma São Paulo: “Sabemos que Cristo, ressuscitado dos mortos, não morre mais. A morte não tem mais poder sobre ele” (Rm 6, 9). Os evangelistas informam que Jesus é o mesmo, mas não é como antes. Apresenta-se agora cheio de vida nova; é alguém real e concreto, mas os discípulos não conseguem retê-lo e conviver com Ele, como anteriormente, pois está com uma existência nova, com um corpo glorioso que dá plenitude à sua vida. Os primeiros cristãos entendem a ressurreição de Jesus como uma atuação de Deus que, com sua força criadora, resgata Jesus da morte para introduzi-lo na plenitude de sua própria vida. As comunidades primitivas acreditam que o acontecido com Jesus, o “Primogênito dos mortos”, é a garantia da ressurreição da humanidade, ou seja, de todos os seres humanos e da criação inteira. Deus, ressuscitando Jesus, começa a nova criação, confirmando seu plano de salvação, presente desde a criação do homem e do mundo: partilhar sua vida divina, sua felicidade com o ser humano (Cf. PAGOLA J. A., Jesus, Ed. Vozes, 2011, p. 489-520).
E como será nossa morte e nossa ressurreição? Toda pessoa humana traz escrito no mais profundo do seu ser o destino para a morte, que gravita sobre a sua existência como uma necessidade inevitável e uma constante ameaça, sobretudo nestes tempos de insegurança em que vivemos. O Concílio Vaticano II afirma: “Diante da morte, o enigma da condição humana atinge seu ponto alto... a semente da eternidade... insurge-se contra a morte” (GS 18). Dentro de nós existe uma ânsia de eternidade, uma esperança de plenitude. De fato, fomos criados à imagem e semelhança do Criador. Existe em nós a semente da eternidade, da imortalidade que o pecado veio ofuscar, trazendo consigo a morte. Era preciso, portanto, uma redenção para que a vida eterna fosse novamente possível, mesmo tendo que passar pela morte humana. Esta redenção já foi conquistada por Jesus Cristo, esperando agora nossa adesão pela fé.
Como será nossa morte e nossa ressurreição? Com a morte a pessoa humana se desliga das coordenadas do tempo. Nossa morte realmente é uma cisão entre o modo de ser temporal e o modo de ser eterno. Na morte o corpo não é mais sentido como uma barreira que nos separa dos outros e de Deus. Entraremos na plena realização das capacidades de nosso ser humano. É a afloração plena da pessoa humana, latente no princípio esperança. Seremos o que cada um de nós merece ser: os que fizeram o bem irão para uma ressurreição de vida em Deus e participarão na comunhão dos santos; os que praticaram o mal receberão o destino pelo qual optaram em vida: a condenação.
A celebração pascal fortifique nossa fé e nossa esperança na vida plena em Deus.
Dom Aloísio A. Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul