Caros diocesanos. Na primeira mensagem do mês de junho, refletimos sobre o chamado de todos os cristãos à santidade, como vocação comum e normal, a partir do nosso batismo, dentro do estado de vida a que pertencemos. Por vezes o tema da santidade parece ter ficado muito distante de nós, mais longe como as imagens dos santos e das santas nas alturas dos altares. O Papa Francisco de novo nos surpreende com documento, trazendo este tema bem perto de nós, com o título: Chamada à Santidade no Mundo Atual (Gaudete et Exsultate). Vamos ocupar-nos com esta temática nas próximas mensagens.
O Santo Padre deixa claro que todos/todas fomos chamados por Deus à santidade e como ela pode acontecer no contexto atual. No primeiro capítulo, sem desconsiderar os sinais de heroicidade na prática das virtudes daqueles santos/as que passaram pelos processos de beatificação e canonização, por vezes doando sua vida como mártires ou pelo martírio quotidiano, o pontífice fala dos santos e santas “ao pé da porta”, dos que testemunham a santidade em meio ao Povo de Deus, no dia-a-dia de sua vida: “Gosto de ver a santidade no povo paciente de Deus: nos pais que criam os seus filhos com tanto amor, nos homens e nas mulheres que trabalham a fim de trazer o pão para casa, nos doentes, nas consagradas idosas que continuam a sorrir... Esta é muitas vezes a santidade ‘ao pé da porta’, daqueles que vivem perto de nós e são um reflexo da presença de Deus” (GE 7). Este chamado à santidade, que é para todos/todas, a partir da graça do batismo, precisa frutificar nos pequenos gestos ou passos da vida diária (cf. GE 15-16), onde santificamo-nos no exercício responsável e generoso da nossa missão de construir com Cristo o seu Reino de amor, justiça e paz para todos (cf. GE 25-26), como diz Bento XVI: “A santidade não é mais do que a caridade plenamente vivida” (GE 21). O Papa Francisco ainda propõe uma integração entre momentos ativos e contemplativos na busca da santidade: “Precisamos de um espírito de santidade que impregne tanto a solidão como o serviço, tanto a intimidade como a tarefa evangelizadora, para que cada instante seja expressão de amor doado sob o olhar do Senhor” (GE 31). E termina o primeiro capítulo dizendo que não devemos ter medo na busca da santidade, pois na vida há uma só tristeza: a de não ser santo/santa (cf. GE 34).
No segundo capítulo do documento Francisco chama atenção especial para dois inimigos sutis da santidade: o gnosticismo e o pelagianismo. São duas heresias que surgiram nos primeiros séculos do cristianismo, mas que continuam atuais e atraem a muitos com suas propostas sedutoras. O gnosticismo não privilegia a caridade para medir a perfeição das pessoas, mas a quantidade dos dados e o grau de conhecimento, enveredando para abstrações sem encarnação, preferindo “um Deus sem Cristo, um Cristo sem Igreja, uma Igreja sem povo”, domesticando o mistério, com explicação para tudo e sentimento de superioridade (maior santidade) em relação aos outros (cf. GE 37, 40 e 45). O pelagianismo não privilegia o conhecimento (gnosticismo), mas a vontade humana e o esforço pessoal, esquecendo que não somos justificados pelas nossas obras ou pelos nossos esforços, mas pela graça (misericórdia) do Senhor que toma a iniciativa (cf. GE 48 e 52). Enfim, a Igreja lembra que o dom da graça ultrapassa as capacidades da inteligência e as forças da vontade humana (mérito); os santos evitam pôr a confiança nas suas ações (cf. GE 54). Nas próximas mensagens continuaremos a refletir esta temática.
Dom Aloísio A. Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul