Caros diocesanos. Continuamos hoje refletindo sobre o Ano do Laicato que a Igreja do Brasil vive, em 2018, com o seguinte objetivo: “Como Igreja, Povo de Deus, celebrar a presença e a organização dos cristãos leigos e leigas no Brasil; aprofundar a sua identidade, vocação, espiritualidade e missão; e testemunhar Jesus Cristo e seu Reino na sociedade”.
A vida e a missão dos leigos acontecem no interior da Igreja, mas se realiza principalmente na realidade secular, campo próprio da sua ação evangelizadora. Sua vocação específica é estar no meio do mundo, à frente de tarefas variadas da ordem temporal. Nossa reflexão continua partindo do documento da CNBB: “Cristãos Leigos e Leigas na Igreja e na Sociedade”.
No terceiro e último capítulo do documento da CNBB, aborda-se “A Ação Transformadora na Igreja e no Mundo”. A eclesiologia do Vaticano II é profundamente missionária. Assim, os leigos e leigas são fermento evangelizador na Igreja, junto com os ministros ordenados e as pessoas da vida consagrada. A Igreja ‘em saída’ é missionária: “Significa estar a serviço do reino, em diálogo com o mundo, inculturada na realidade histórica, inserida na sociedade, encarnada na vida do povo” (n. 170). O Papa Francisco afirma: “Eu sou uma missão nesta terra, e para isso estou neste mundo” (EG 273). Nosso compromisso missionário precisa fundamentar-se sobre a rocha da Palavra de Deus e o encontro com o Senhor, sobretudo na eucaristia. Somos continuamente desafiados a trabalhar pela cultura do encontro, que gera compromisso com o bem comum, e ter coragem de dizer ‘não’ aos desafios do mundo globalizado, consumista e secularizado, seja em nossa ação rotineira familiar e social, como na construção do mundo nas mais diversas frentes, tendo especial cuidado com os que vivem na periferia geográfica ou existencial. Essas posturas cristãs dos leigos e leigas exigem uma espiritualidade encarnada: “Não se trata de fugir das realidades temporais para encontrar Deus, mas de encontrá-lo ali, em seu trabalho perseverante e ativo, iluminados pela fé. É preciso discernir e rejeitar a tentação de uma espiritualidade intimista e individualista que dificilmente se coaduna com as exigências da caridade” (n. 184). Espiritualidade de comunhão e missão significa respeito mútuo, diálogo, proximidade, partilha, benevolência e beneficência. O Papa Francisco alerta: “Não servem as propostas místicas desprovidas de um vigoroso compromisso social e missionário, nem os discursos e ações sociais e pastorais sem uma espiritualidade que transforme o coração” (EG 262).
Após analisar a presença e a organização dos cristãos leigos no Brasil, com forte insistência sobre a necessidade da formação, o documento aborda novamente a ação dos cristãos leigos e leigas nos areópagos modernos: da família, do mundo da política, das políticas públicas, do trabalho, da cultura e da educação, das comunicações, do cuidado com a nossa casa comum, e de outros campos de ação ou areópagos modernos. E finaliza com indicativos e encaminhamentos de ações pastorais e compromissos a serem assumidos em diversos níveis.
Seja o Ano do Laicato, especial oportunidade de valorizarmos a presença leiga em nossa diocese, especialmente no processo da Iniciação à Vida Cristã na perspectiva de uma Igreja samaritana.
Dom Aloísio A. Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul