Caros diocesanos. Na mensagem anterior, nós vimos a dimensão vocacional no Concílio Vaticano II, no Documento de Aparecida e no Papa Francisco. Recordamos nosso chamado a ser povo de Deus, discípulo missionário/a, para servir com alegria. Agora nos dedicaremos mais ao texto bíblico iluminador do Ano Vocacional: “Jesus chamou e enviou os que ele mesmo quis” (Mc 3, 13-19). Este versículo nos recorda que a origem, o centro e a meta de toda a vocação e missão é a pessoa de Jesus Cristo. O seguimento nasce de um chamado na normalidade da vida, mas que convida a obedecer à Palavra de Jesus Cristo e a percorrer o seu caminho em uma total confiança, portanto, a seguir uma pessoa e compartilhar sua vida e ser enviado a testemunhar essa experiência. A nova missão dos apóstolos envolverá toda sua vida e o caminho nem sempre será fácil, mas possível, pois Deus estará presente. Percebe-se que a ação missionária que vai ser realizada não nasce de suas capacidades e estratégias, nem do voluntarismo ou do esforço em praticar virtudes, mas de uma experiência profunda com Jesus. Os que são chamados para serem apóstolos vão percebendo sempre mais que sua missão está intimamente ligada à missão do próprio Jesus Cristo: “Ajudar o ser humano a estar com Deus, viver conforme a vontade de Deus, construindo o seu Reino de justiça, de vida, de paz, de fraternidade, de solidariedade” (TB, n. 95).
O texto bíblico,
acima citado, revela que a vocação é um chamado, é uma graça: “chamou os que ele mesmo quis”, e esses “foram até ele”. Portanto, a vocação é
iniciativa amorosa de Deus e acolhida na fé, sob a ação do Espírito; não
depende dos méritos ou outros privilégios adquiridos: “Chamado e resposta, dom e tarefa formam uma unidade na ação de Deus”
(TB, n. 102). Aqui percebemos que não podemos enveredar pelo caminho da
autorreferencialidade ou de outras vias humanas que não aprendemos do evangelho.
Neste cenário, o texto-base nos remete à oração como “espaço para voltar a escutar Jesus, sua voz, seu chamado. Uma voz que é
também presença, Cristo vivo” (TB, n. 111). É no encontro com o Cristo vivo
que podemos redescobrir o sentido da própria vida. A experiência de permanecer
com Jesus consiste em deixar-nos conquistar por Ele, identificar-nos com seu
projeto de amor, para ter os mesmos sentimentos dele em relação ao Pai e ao
Reino. Em outras palavras, Jesus chama homens e mulheres para permanecer com
ele e aprender dele o seu jeito de ser e de amar. Essa proximidade e
convivência com o Mestre provocará profundas mudanças em nós: aprenderemos que
todos somos irmãos e irmãs; que o poder se faz serviço aos outros; que nossa
riqueza é podermos partilhar solidariamente; que somos amigos do Mestre e das outras
pessoas e não seus escravos; que mulheres e homens têm a mesma dignidade; e que
todos somos convidados a nos colocar ao redor da mesma mesa, como irmãos e
irmãs. A experiência de proximidade e de convivência com Jesus são o segredo de
toda vocação: “Quem aceitou o convite de
Jesus para permanecer com Ele e entrou em seu discipulado é chamado a
configurar-se a Ele e tê-lo como referencial de vida na missão do Reino, bem
como, na experiência e intimidade com o Pai” (TB, n. 131).
Nosso permanecer
com Jesus não tem o sentido de intimismo ou de descaso com os outros e com a
realidade da vida. Por isso, passamos agora a considerar o envio missionário,
essencial no contexto vocacional. O envio não pode ser entendido como algo que
acontece cronologicamente após o permanecer com o Senhor, mas torna-se um
estado permanente na vida dos que foram chamados por Jesus. A intimidade com
Jesus provoca a disponibilidade para o envio: “Estar com Ele e por Ele ser enviado” (TB, n. 134).
Dom Aloísio
Alberto Dilli – Bispo de Santa Cruz do Sul