Caros diocesanos. O dinamismo da esperança está presente no mais profundo de cada ser humano. Sua própria identidade se move dentro de um constante vir-a-ser, projetando-se para o futuro, pois ele nunca se sente pronto, com realização plena e definitiva. De forma semelhante, como na dimensão antropológica, este dinamismo se manifesta também no campo religioso, pois o crente percebe que seu coração está inquieto até que descanse em Deus (S. Agostinho), quando verá um novo céu e uma nova terra e o próprio Deus estará presente, fazendo novas todas as coisas (cf. Ap 21, 1, 3 e 5).
Há momentos da vida em que esse dinamismo da esperança aflora com maior evidência, sobretudo em situações de crise, quando se deseja que o momento presente passe o mais rápido possível e um futuro melhor se descortine, como no caso das pandemias e outras catástrofes que, de tempos em tempos, assolam a humanidade. Todos nós vivemos intensamente esse fenômeno na atual página da história, diante do Coronavírus Covid-19, que ceifa milhares de vidas por todo planeta. Dentro desse quadro da pandemia, um dos temas de reflexão que mais aparece é o da esperança. Em primeiro lugar, a esperança que o vírus não visite a nós pessoalmente e aos que convivem conosco, cuidando-nos para isso, ou que a medicina cure logo todos os infectados, próximos ou distantes, sem sofrerem maiores consequências; e mais, esperamos que os responsáveis civis e da saúde tomem medidas públicas corretas e eficientes para seu combate, com a colaboração de todos; depois, alimentamos a esperança que sejam descobertos, o quanto antes, remédios de cura e vacinas de prevenção; finalmente aflora a esperança de voltar à vida normal. E na perspectiva da fé, sempre temos a esperança de que Deus ajude a livrar-nos desse mal da pandemia e, mesmo que a morte atinja de alguma forma nossas famílias e comunidades, restará a esperança da vida eterna de quem partiu. Assim damo-nos conta que não é possível viver sem esperança, por ela ser constitutiva de nossa vida humana e espiritual, e sobretudo precisamos dela em tempos de pandemia.
Pelo refletido acima, nós cristãos nos damos conta que somos seres a caminho. Não estamos definitivamente em casa, onde nos encontramos. De certa forma, nos sentimos estranhos, neste mundo, pois nossa verdadeira pátria é outra. Vivemos hoje numa sociedade de consumo, onde tudo parece ser transitório, passageiro, descartável, influenciando decididamente em nossas relações com as pessoas, com as coisas e até em opções religiosas. Neste contexto, o que vale é o presente, os desejos do aqui e agora; enquanto o definitivo ou o eterno parecem excluídos do vocabulário das pessoas. A grande frustração desta constante transitoriedade é não oferecer valores seguros, perenes. Assim a pessoa humana vive em estado de insaciabilidade. Mesmo que busque constantemente novidades, ela se frustra, pois nada parece conduzir ao eterno, ao saciável, uma vez que a fragilidade humana indica para o limite, para o fim, para a morte, com a sensação de a vida ser realmente uma paixão inútil, dando razão a Sartre e outros.
Neste tempo de pandemia temos oportunidade de meditar e refletir sobre a vida, seu sentido, suas relações, sua meta. O Espírito do Senhor e seu santo modo de operar nos acompanhem e nos conduzam ao encontro do verdadeiro sentido da vida. O Deus da misericórdia tenha compaixão de nós e, diante de nossa firme disposição de recomeçar sempre o caminho, que a Ele conduz, nos perdoe os desvios de rota e nos reconduza ao sentido verdadeiro da vida, a qual tem destino eterno, junto com Ele e os Irmãos.
Dom Aloísio A. Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul