Caros diocesanos. Como cristãos católicos, certamente temos consciência que no mês de setembro a Igreja costuma dedicar atenção especial à Bíblia. Este destaque nos ajuda a valorizar a Palavra de Deus em nossas leituras, meditações, Leitura orante e, sobretudo, nas celebrações. Os documentos da Igreja acentuam que a celebração da Palavra é forma privilegiada de encontro com Deus (VD 65), com o Deus da Palavra.
Em vista da importância sempre maior que a Palavra de Deus e, consequentemente, sua celebração vem recebendo na vida e missão das comunidades cristãs, queremos refletir alguns aspectos que talvez ajudem a dar à Palavra de Deus seu justo lugar e verdadeiro sentido, tanto como celebração autônoma ou junto aos sacramentos. É inquestionável a veneração da Palavra na vida e missão da Igreja de todos os tempos, mas nem sempre se lhe deu o devido valor de culto. Prova disso, até hoje, é nossa dificuldade em participarmos de celebrações da Palavra, fora da missa ou outro sacramento. Ainda não lhe damos a devida cidadania ou valor celebrativo, como forma de presença do Senhor entre nós (cf. Jo 1, 14).
Nosso objetivo, portanto, será ajudar na descoberta da “sacramentalidade” que possui a celebração da Palavra de Deus (VD 56) na comunidade de fé, reunida em oração; sem com isso atribuir-lhe caráter simplesmente substitutivo ou desmerecer a celebração dos Sacramentos, que tem seu valor próprio inquestionável no desenvolvimento da vida cristã. Dando verdadeiro sentido e valor à celebração da Palavra, valorizaremos também a dos Sacramentos, que têm a Palavra de Deus como fundamento e parte constitutiva.
Queremos também, a partir de Documentos da Igreja, valorizar e incentivar as celebrações da Palavra de Deus em nossas comunidades, não simplesmente como um “mal necessário” pela falta de sacerdotes ou como simples aula de catequese ou de Bíblia, mas como verdadeiras celebrações litúrgicas que também fazem acontecer a presença de Jesus Cristo Salvador na comunidade de fé que celebra sua vida, junto ou não ao sacramento, com ou sem a presença do sacerdote.
Ao analisarmos a linguagem do Concílio Vaticano II, constataremos que é afirmada a presença de Cristo nas ações litúrgicas, destacando-se a presença na Eucaristia e demais Sacramentos, mas não como exclusiva, como única forma de presença, pois está também na Palavra: “É Ele mesmo que fala quando se lêem as Sagradas Escrituras na Igreja” (SC 7). E acrescenta-se outra forma importante de presença: a da comunidade reunida na fé, na oração: “Está presente finalmente quando a Igreja ora e salmodia, Ele que prometeu: ‘onde dois ou três estão reunidos, eu estarei no meio deles’ (Mt 18, 20)” (SC 7). E o Documento de Aparecida vem ajudar-nos nesta reflexão, ao afirmar que os fiéis impossibilitados de participar da eucaristia “podem alimentar seu já admirável espírito missionário participando da ‘celebração dominical da Palavra’, que faz presente o Mistério Pascal no amor que congrega (1Jo 3, 14), na Palavra acolhida (cf. Jo 5, 24-25) e na oração comunitária (cf. Mt 18, 20)” (DAp 253). Isso sem falar em outras formas de encontro com o Senhor (DAp 246ss).
Diante dessa importância que a Igreja dá à Palavra de Deus e sua celebração, a CNBB, no início deste ano de 2019, emitiu novo documento: “Ministério e Celebração da Palavra” (Doc. CNBB 108), como subsídio que contém “Fundamentação bíblico-teológica e orientações pastorais do Magistério Universal e da CNBB, com relação aos ministérios em geral e, em particular, ao ministério da Palavra...confiado aos cristãos leigos e leigas” (n. 1). Continuaremos essa reflexão nas próximas mensagens.
Dom Aloísio A. Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul