Caros diocesanos. Por ocasião da
solenidade da Ascensão do Senhor, o Papa costuma emitir uma mensagem sobre as
comunicações sociais. Em 2018, o Santo Padre acentua a importância da
transmissão da verdade pelos meios de comunicação social, condenando o fenômeno
das falsas notícias (Fake News), que
se baseiam em informações sem fundamento, baseadas em dados inexistentes ou distorcidos,
tendentes a enganar e até manipular o destinatário. Sua divulgação pode visar
objetivos prefixados, influenciar opções políticas e favorecer lucros econômicos;
ou explorar emoções imediatas e fáceis de suscitar, como a ansiedade, o
desprezo, a ira e a frustração. Os danos muitas vezes são irreversíveis, mesmo
sendo desmentidos posteriormente.
O Papa Francisco usa a comparação bíblica da sedução da serpente no
paraíso (Gn 3, 1-15) para mostrar como a argumentação falsa pode ser enganosa e
levar a trágicas consequências contra Deus, o próximo, a sociedade e a criação.
As falsas notícias tornam-se frequentemente virais, ou seja, propagam-se com
grande rapidez e dificilmente são controláveis, sobretudo pelo fascínio e avidez
insaciáveis que facilmente se acendem no ser humano. As motivações econômicas e
oportunistas facilmente nos movem, de falsidade em falsidade, para roubar-nos a
liberdade do coração, ofuscando o nosso íntimo. Por isso afirma o Papa: “Educar para a verdade significa ensinar a
discernir, a avaliar e ponderar os desejos e as inclinações que se movem dentro
de nós”. É preciso deixar-se purificar pela verdade. Como afirma o
Evangelho: “A verdade vos libertará”
(Jo 8, 32). Jesus mesmo se apresenta como “A
Verdade” (cf. Jo 14, 6). Assim podemos dizer que nossa verdade está
fundamentada na verdade de Deus. Portanto, a libertação da falsidade e a busca
do relacionamento são ingredientes que não podem faltar, para que nossas palavras
e nossos gestos sejam verdadeiros, autênticos e credíveis. A verdade favorece a
comunhão e promove o bem; a mentira tende a isolar, dividir e contrapor. A
verdade brota de relações livres entre as pessoas, na escuta recíproca.
O Papa fala ainda que a paz é a verdadeira notícia: pessoas livres de
ambição, prontas ao diálogo sincero, atraídas pela paz e o bem, são o melhor
antídoto contra a falsidade. Daí nasce a responsabilidade dos comunicadores: o
mais importante não é a rapidez e a influência da notícia, mas a sua veracidade
para as pessoas. O Papa deseja um jornalismo de paz, feito como serviço para todas
as pessoas e que não se limita a queimar notícias. A mensagem termina com
adaptada oração franciscana da paz:
“Senhor,
fazei de nós instrumentos da vossa paz. Fazei-nos reconhecer o mal que se
insinua em uma comunicação que não cria comunhão. Tornai-nos capazes de tirar o
veneno dos nossos juízos. Ajudai-nos a falar dos outros como de irmãos e irmãs.
Vós sois fiel e digno de confiança; fazei que as nossas palavras sejam sementes
de bem para o mundo: onde houver rumor, fazei que pratiquemos a escuta; onde
houver confusão, fazei que inspiremos harmonia; onde houver ambiguidade, fazei
que levemos clareza; onde houver exclusão, fazei que levemos partilha; onde
houver sensacionalismo, fazei que usemos sobriedade; onde houver
superficialidade, fazei que ponhamos interrogativos verdadeiros; onde houver
preconceitos, fazei que despertemos confiança; onde houver agressividade, fazei
que levemos respeito; onde houver falsidade, fazei que levemos verdade. Amém”.
Dom Aloísio Alberto Dilli – Bispo de Santa Cruz do Sul