Caros diocesanos. Junho é conhecido na Igreja como o mês dos santos. Motivados também por documento do Papa Francisco, desejamos refletir sobre o tema da santidade nas próximas mensagens. No início da realização do Concílio Vaticano II fez-se a pergunta fundamental sobre a identidade da Igreja, surgindo surpreendente resposta, que ecoa até os nossos dias: a Igreja é o Povo de Deus, formado por todos os estados de vida: clero, consagrados/as, leigos e leigas, tendo como base comum o batismo. Por isso nos lembra o documento Lumen Gentium: “Um é o povo eleito de Deus: ‘um só Senhor, uma só fé, um só batismo’ (Ef 4, 5). Comum a dignidade dos membros pela regeneração em Cristo. Comum a graça de filhos. Comum a vocação à perfeição... Todos são chamados à santidade e receberam a mesma fé pela justiça de Deus (2Pdr 1,1)... Reina, contudo, entre todos verdadeira igualdade quanto à dignidade e ação comum a todos os fiéis na edificação do Corpo de Cristo” (LG 32 e 39ss). Com estas palavras conciliares a Igreja afirmava a beleza e a importância de todas as vocações, convidadas a participarem da natureza divina, da santidade de Deus (LG 40). O Papa João Paulo II, no documento Novo Millenio Ineunte, afirma que a santidade é “medida alta da vida cristã ordinária”, e isto vale para todos os batizados, para todos os estados de vida (NMI 30-31).
Sabemos que somente Deus é totalmente santo. Ele é a santidade. Diante dele o resto é profano (Pro fanum = Diante do Santo); mas Deus, no seu infinito amor, quis a pessoa humana participante de sua santidade, criando-a segundo sua imagem e semelhança. Assim se estabelece o grande sonho de Deus e a vocação fundamental do ser humano: tornar-se filho/a, santo/a (1Pd 1, 16). A santidade, portanto, entendida como um chamado para identificação sempre mais perfeita com Deus é o desafio maior de todos nós. Estar unido a Deus é ser santo; afastar-se dele significa estar no pecado e perder a santidade. Por isso, após o pecado de Adão e Eva, aconteceu a encarnação do próprio Deus, em Jesus Cristo, para a remissão. Nele a santidade tornou-se novamente possível. O mundo foi recriado pela presença do Santo, que veio habitar entre nós (Jo 1, 14). Da parte do ser humano exige-se o ato de fé, de adesão à obra redentora. Em meio à sua situação de santo e de pecador, o ser humano vive um processo contínuo de santificação; ele vai se identificando com o Cristo e sua Páscoa, Aquele que amou sem medida, dando a vida por todos. Assim, podemos dizer que o santo não é uma exceção, mas um modelo de um processo normal de vida cristã. Uma vida cristã que tem o desfecho coerente diante da obra da salvação de Cristo: “A santidade, pois, não é um luxo, uma exceção, um privilégio de alguns. É uma vocação de todo cristão” (A. Burin). Isto é motivo de júbilo, de vitória, de esperança, de louvor a Deus. Portanto, a vocação à santidade não é apenas para aqueles/aquelas que praticam “virtude em grau heróico” e são elevados aos altares, como modelos e intercessores oficiais, mas para todos os batizados em Cristo. Desta forma o culto dos santos torna-se ação de graças da Igreja a Deus por ter tornado visível e concreta a maravilha da santidade em inúmeros de seus membros, graças à sua união sempre mais plena ao Cristo da Páscoa. O mártir ou confessor torna-se sinal privilegiado daquele amor que levou Jesus Cristo a dar a própria vida pelos irmãos na glorificação do Pai. A santidade, portanto, é identificação a Cristo e não exaltação de si mesmo, evitando que o culto dos santos se transforme num culto de heróis.
Dom Aloísio A. Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul