Muitos trabalhadores aproveitam os meses de janeiro e fevereiro para tirarem suas férias e descansarem depois de um ano de intensos trabalhos. Uma das novidades dos últimos anos é que, também os agricultores, estão conseguindo se organizar para tirarem alguns dias de férias e curtirem uma praia ou acampamento, ou então visitar familiares que moram longe.
O direito ao descanso encontra apoio no primeiro livro da Bíblia, quando se diz que, concluído o céu e a terra, “Deus repousou de toda a obra da criação” (Gn 2,3). Na aliança com o povo escolhido (Ex 20), Deus mandou santificar o sábado: “Trabalharás durante seis dias e farás todos os trabalhos, mas o sétimo dia é sábado, descanso dedicado ao Senhor teu Deus”. O evangelho narra um episódio em que os apóstolos, depois de relatarem “tudo o que tinham feito e ensinado” (Mc 6,30-32), foram convidados por Jesus a irem para um lugar deserto e descansarem um pouco. O Ensino Social da Igreja ratifica “o direito ao descanso de cada dia, assim como à cessação do trabalho no dia do Senhor” como “condição expressa ou tácita de todo contrato feito entre patrões e operários” (Rerum Novarum, n. 60).
Em recente discurso aos bispos e cardeais da Cúria Romana (22 de dezembro de 2014), o Papa Francisco afirmou que “descuidar do descanso leva ao estresse e à agitação”. Por isso, “o tempo do descanso, para quem levou a termo a sua missão, é necessário, obrigatório e deve ser levado a sério”. “Passar um pouco de tempo com os familiares e respeitar as férias como momentos de recarga espiritual e física” é imprescindível, uma vez que, conforme o Livro do Eclesiastes (3,1-15), “para tudo há um tempo”. Há, portanto, um tempo para trabalhar e também um tempo para descansar. As férias são este tempo para descansar e para curtir a família.
Para que as férias sejam proveitosas e não prejudiquem nosso futuro, temos que tirá-las com responsabilidade. Certamente não são boas férias aquelas que prejudicam a nossa saúde, destroem a nossa família ou criam conflitos com nossa comunidade. As férias são boas na medida em que, conforme expressão popular, ajudam a “recarregar as baterias”. Aquilo que não conseguimos fazer ordinariamente, como dormir por mais tempo, cultivar algum hobe, fazer alguma leitura, viajar ou fazer uma comida diferente, pode ser feito no tempo das férias. Também é importante não descuidar da nossa fé, mantendo a oração diária e a celebração nos finais de semana.
Faço votos de que todos consigam tirar o seu período de férias. Aqueles que têm a graça de conseguir tirá-las no início do ano, aproveitem para curtir e descansar. Os que não têm esta graça agora, não deixem passar o ano de 2015 sem tirar alguns dias de férias. Não caiamos naquilo que o Papa Francisco chamou de doença do “martalismo”, numa referência à Santa Marta que “estava ocupada com os muitos afazeres da casa”, enquanto “Maria se sentou aos pés do Senhor e escutava a sua palavra” (Lc 10,38-42).
Boas férias com as bênçãos do Deus que descansou, após ter criado o céu e a terra!
Dom Canísio Klaus
Bispo Diocesano