No dia 09 de fevereiro, dia de Carnaval, milhares de romeiros do sul do Brasil e países do Prata se reunirão na Sanga da Bica em São Gabriel para uma grande convocação em favor do cuidado da terra, “a nossa casa comum”. O encontro acontece pela trigésima nona vez como forma de celebrar o martírio de Sepé Tiarajú, o líder guarani que tombou ao lado de 1500 companheiros na Sanga da Bica, em 1756, buscando defender a terra do seu povo.
A terra, desde os primórdios, foi entregue por Deus ao ser humano para que a cuidasse e tirasse dela o seu sustento. “Cada comunidade pode tomar da bondade da terra aquilo de que necessita para a sua sobrevivência, mas tem também o dever de a proteger e garantir a continuidade da sua fertilidade para as gerações futuras” (LS, 67). A terra “e tudo o que nela existe pertence ao Senhor” (Dt 10,14). Daí que Deus proíbe toda a pretensão de posse absoluta (LS, 67) e o uso da terra como bem especulativo vai contra projeto divino.
Em 2016 a Romaria da Terra adquire um significado especial, uma vez que vem corroborar a encíclica papal “Laudato si: sobre o cuidado da casa comum” e motivar a Campanha da Fraternidade Ecumênica que alerta sobre a nossa responsabilidade para com esta Casa Comum. Conforme o Papa, “todos podemos colaborar, como instrumentos de Deus, no cuidado da criação, cada um a partir da sua cultura, experiência, iniciativas e capacidades” (LS, 14).
As pessoas que vivem da terra, como é grande parte da população da Diocese de Santa Cruz do Sul, conhecem muito bem a importância do cuidado da terra. Num período de muitas chuvas, como foram os últimos meses, elas sofrem ao verem a terra fértil descer o rio. Igualmente sofrem quando veem a terra virando deserto pela falta de chuvas. Muitos também já começam a sofrer com a percepção do excessivo uso de agrotóxicos e herbicidas que causam danos irreparáveis à biodiversidade. Outros se questionam sobre o futuro da vida na medida em que proliferam as sementes transgênicas e desaparecem as sementes crioulas. Aliás, nesta área, a Diocese de Santa Cruz do Sul tem o belo projeto do Banco das Sementes Crioulas, apontado como um dos melhores bancos de sementes crioulas do Brasil.
Na Romaria da Terra se destaca a sacralidade da vida e a importância da terra na preservação desta vida. Em sua 39ª edição, ela também voltará seus olhos para a realidade das comunidades indígenas, que foram os primeiros ocupantes destas terras e hoje, muitas vezes, são tratados como intrusos. A luta de Sepé Tiarajú que tombou mártir na defesa das terras indígenas, servirá de inspiração para a tomada de posição.
Faço votos de que Deus abençoe os romeiros e abra os corações de todas as pessoas para se comprometerem no cuidado da Casa Comum que é o Planeta Terra.
Dom Canísio Klaus
Bispo Diocesano