Caros diocesanos. Em mensagens anteriores refletimos sobre a Catequese e a Liturgia em tempos de pandemia. Hoje pretendemos refletir convosco sobre outro aspecto, também fundamental, que emerge fortemente dentro do contexto da pandemia: sermos Igreja samaritana pela caridade.
Assim desejamos relacionar Catequese, Liturgia e Caridade, considerando-as como unidade. O Papa Paulo VI, tomando um adágio que nasceu no século V e que foi se desenvolvendo na Igreja: “Lex orandi – Lex credendi” (= A lei da oração é a lei da fé ou A Igreja crê conforme reza), acrescentou uma terceira expressão: “Lux operandi et vivendi” (= ...que leva à luz da ação e da vida). Sim, desejamos crer conforme celebramos e isso nos deve levar à luz da ação e da vida. O Papa João Paulo II, ao falar da caridade, assim se expressa: “Se faltar a caridade, tudo será inútil... Nesta página, não menos do que o faz com a vertente da ortodoxia, a Igreja mede a sua fidelidade de Esposa de Cristo” (NMI 42 e 49). E a CNBB confirma este modo de pensar: “Uma comunidade insensível às necessidades dos irmãos e à luta para vencer a injustiça é um contra-testemunho, e celebra indignamente a própria liturgia” (DG 2008-2010, n. 178).
Pelo visto anteriormente, percebemos uma profunda relação entre o que celebramos (lex orandi) e o que cremos (lex credendi) e ambas não podem distanciar-se da vida cristã consequente (lex ou lux agendi ou operandi), sobretudo do testemunho de nossas ações. Ao falarmos em Iniciação à Vida Cristã, em catequese de inspiração catecumenal - que tem caráter progressivo de conhecimento, de aproximação e encontro com o Senhor e de inserção operante na vida da comunidade - é de fundamental importância que entendamos a temática abordada acima, pois ela nos mostra pela tradição da Igreja que não podemos separar liturgia (celebração, oração) daquilo que cremos (doutrina, conhecimento, fé) e estas têm sua necessária expressão operante na vida concreta dos cristãos. Portanto, catequese e liturgia e ação de vida andam necessariamente unidas e interdependentes. Não basta a doutrina isolada; não é suficiente a liturgia em si mesma; e não resolve um solitário voluntarismo de ações sem fundamento cristão. Pois elas interagem, são interdependentes e se completam mutuamente.
As primeiras comunidades cristãs (Cf. At 2, 42-47 e At 4, 32-37) concretizavam a fé pela caridade vivida, colocada acima de tudo (Cf. Gl 5, 6 e 1Cor 13, 1-13). Também nós, diante da situação criada pela pandemia, sentimos necessidade de ações nacionais, diocesanas, paroquiais e comunitárias concretas diante dos irmãos e irmãs em necessidade. Já existem apelos gerais e organizações com propostas, como da CNBB (“É Tempo de Cuidar”) e de outras entidades, civis e religiosas, para ajudas aos que mais precisam. Certamente, nossos municípios também as promovem e somos atentos e sensíveis a isso.
É gratificante ver como, em algumas paróquias e comunidades da diocese, a dimensão da caridade está ganhando força, especialmente durante estes dias da ameaça do Covid-19 e suas consequências. Em outras, possivelmente, não é tão intensiva. Eis uma das perguntas que deve ser feita por todas as lideranças pastorais: - Considerando que desejamos ser Igreja samaritana, o que é possível realizar para atender o povo em suas necessidades, especialmente neste tempo de pandemia? Enquanto pensamos nas possíveis respostas e atitudes, enviamos nossa saudação fraterna e manifestamos nossos sentimentos de profunda comunhão.
Dom Aloísio A. Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul