Caros diocesanos. A Páscoa é o centro de todo Ano Litúrgico. Por ser tão importante, já no IVº século, a Igreja instituiu o tempo da quaresma, como a conhecemos hoje, que nos ajuda a preparar a Páscoa em nossa vida. O tempo quaresmal é favorável à conversão do nosso coração, voltando-nos para a identidade de filho/a de Deus e irmão/ã em Cristo, portanto, comprometidos com o mandamento do amor a Deus e ao próximo. Desde 1964, a CNBB convoca os fiéis para uma Campanha da Fraternidade neste tempo litúrgico, para concretizar o ser fraterno em uma determinada realidade do nosso país. Isso não significa que a quaresma apenas se restrinja à essa campanha de oração, reflexão e ação concreta. Em 2022, propõe-se o tema da Fraternidade e Educação.
Em mensagens anteriores já abordamos essa temática no texto-base da CNBB e que hoje continuamos na etapa do escutar, na metodologia do escutar-discernir-agir. Um dos campos que a pandemia veio transformar foi o das comunicações, que introduziram um novo jeito de viver, provocaram novo ritmo de tempo, criaram nova percepção de distância e um novo modo de viver as relações humanas. Novas metodologias e tecnologias educacionais apareceram e precisam tornar-se realidades abertas sem fronteiras, com abertura à verdade, ao diálogo, ao encontro e a amizade social e não para opiniões exaltadas, monólogos agressivos, favorecendo grupos privilegiados: “Tanto a educação formal e informal, presencial e virtual, devem promover a liberdade da pessoa humana. Educar é humanizar. A educação é um ato de amor e esperança no ser humano” (TB 69).
No campo das comunicações e da educação básica, não podemos esquecer o analfabetismo, que continua a ser um dos grandes desafios em nosso país. A cidadania vem da capacidade de interagir com as leis, os direitos, os deveres; a dificuldade de comunicação entrava a vida normal em sociedade: “O analfabetismo é causa de pobreza e de extrema vulnerabilidade social” (TB 87).
Outro tema que merece atenção especial é o das Escolas Católicas, que têm sua proposta de humanismo integral e são assim definidas pelo texto-base da Campanha da Fraternidade: “São lugares de encontro, da educação integral da pessoa humana por meio do projeto pedagógico que tem o seu fundamento em Cristo, orientado para realizar uma síntese entre fé, cultura e vida” (TB 92). Seu objetivo é formar bons e honestos cidadãos, que exercem sua profissão com responsabilidade e ética, cuidam da dignidade da pessoa humana, sempre orientados pelos valores cristãos. Nas palavras do Papa Francisco, habita na educação a semente da esperança de paz e justiça, de beleza e bondade, de harmonia social (cf. TB 110). Afirma o texto-base: “Trabalhar por uma educação que promova a vida acima de qualquer outro valor, ajudando a resgatar a dignidade de cada pessoa humana, em um exercício permanente de fraternidade e solidariedade contribuirá para o surgimento e desenvolvimento de uma nova humanidade” (TB 122). Para criar este espírito, é de fundamental importância o ensino religioso que destaca os valores humanos e espirituais, comprometido com a construção da paz social, do diálogo respeitoso com a diversidade cultural, focado na percepção da busca humana à transcendência.
Assim concluímos nossa modesta síntese do texto-base que se refere ao escutar. Segue agora o discernir e depois o agir. Mas isto fica para as mensagens das próximas semanas. O Senhor abençoe nossa caminhada quaresmal para a Páscoa.
Dom Aloísio Alberto Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul