Caros diocesanos. A experiência do tempo da pandemia já nos ensinou a sermos criativos em muitos aspectos da nossa vida, seja em relação aos cuidados da saúde, como igualmente em tantos outros setores. O verbo que mais parece estar sendo conjugando neste contexto é reinventar. Alguns até falam em reinventar a vida, sobretudo, quando desejam referir-se às tantas respostas que são aguardadas diante das inúmeras perguntas formuladas, especialmente ao olharmos para o futuro, seja em relação aos novos valores que deverão emergir, seja em relação às pesadas e negativas consequências do Coronavírus Covid-19, que envolverão a vida de todos nós. Não é diferente na Igreja, nas suas celebrações litúrgicas, nos seus encontros de catequese e de pastoral, nos eventos comunitários. Neste sentido, já tivemos ocasião de refletir em mensagens anteriores a nova experiência da fé, da esperança, da caridade, da santificação e outras temáticas nestes tempos de pandemia. Hoje gostaríamos de abordar o tema das festas que fazem parte das tradições de nossas comunidades e de nossas famílias. Somos seres sociais e concordamos todos ao afirmar que a festa faz parte do nosso viver; sentimos necessidade de encontrar-nos para celebrar a vida, sobretudo nos fatos ou momentos mais importantes da sua história. E para isso, não duvidamos em apresentar o que temos de melhor, desde a maneira de celebrar a fé até a confraternização em torno à mesa.
O tempo da pandemia está atingindo até esses nossos encontros comunitários de festa que, além de apresentarem tantos valores, também ajudam a sustentar as comunidades e seus diversos serviços, sobretudo os pastorais. Esta experiência nos ensina que não podemos apostar exclusivamente nas nossas festas para garantir a sustentabilidade das comunidades e seus serviços. Aqui entra a importante reflexão sobre o dízimo e outras formas de contribuição, mais estáveis, para ajudar as comunidades, como já refletimos em outras oportunidades. Lembramos que o dízimo é uma contribuição financeira e periódica que o cristão oferece livremente para a comunidade, à qual pertence e da qual participa, com o objetivo de ajudar a fim de que possa acontecer tudo o que envolve a evangelização na comunidade, razão de ser da própria Igreja, pois ela existe para evangelizar (cf. EN 14). O dízimo permite que a comunidade sobreviva, se mantenha, possa prestar seus serviços, consiga ajudar os necessitados, enfim, realize sua missão evangelizadora.
Hoje gostaria também de acenar para uma outra questão: as festas ligadas à celebração dos sacramentos. Como afirmamos acima, faz parte da vida celebrar os fatos ou os momentos importantes da nossa história. Porém, precisamos afirmar também que ultimamente dá-se importância demasiada para o festivo, junto à celebração dos sacramentos. Isso acontece com ordenações, primeiras comunhões eucarísticas e, sobretudo, com certos casamentos. O aparato cerimonioso é tão acentuado que o essencial parece ficar em segundo plano, que consiste no compromisso que os noivos firmam entre si, diante de Deus, do ministro e testemunhas da comunidade para viver uma aliança de amor por toda vida. O tempo da pandemia também nos faz lembrar que nós não precisamos de uma movimentação tão excepcional e gastos tão suntuosos para a essência do sacramento acontecer. Sim, é tempo de reinventar. Com ou sem pandemia, é preciso repensar alguns exageros de nossas festas e voltar-nos mais ao essencial, ao que realmente é importante. O novo processo de Iniciação à Vida Cristã deve ajudar-nos muito neste sentido.
Dom Aloísio Alberto Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul.