Caros diocesanos. Além dos flagelos do coronavírus, assustam-nos as estatísticas sobre a violência contra as diversas formas de vida do nosso planeta, sobretudo a agressão que atinge a pessoa humana. Como não bastassem as violências na relação de uns com os outros, ainda surgem estranhas formas de mutilação, por vezes, chegando até ao suicídio, incluindo significativo número de adolescentes e jovens. Parece que muitos perderam o valor, o sentido da própria vida, tornando-a como algo banal e indiferente.
A história nos ensina que a pessoa humana sempre tentou dar resposta à pergunta sobre o sentido da sua existência. E há uma quantidade inumerável de respostas. No entanto, não existe solução satisfatória sem o recurso à fé; ou temos que ser coerentes como o filósofo ateu Jéan Paul Sartre, que afirma ser a vida um caminhar para o nada, o vazio, a morte; sendo a vida, portanto, uma “paixão inútil”, por mais bela que seja ou tenha sido. Neste contexto, o grande líder espiritual e pacifista indiano, Mahatma Ghandi, afirma: “Uma vida sem religião é como um barco sem leme”. O físico judeu Albert Einstein diz que “não há oposição entre ciência e religião; apenas há cientistas atrasados”. O gênio da física também se pergunta: “Tem um sentido a minha vida? A vida de um homem tem sentido? Posso responder a tais perguntas se tenho espírito religioso... Aquele que considera sua vida e a dos outros sem qualquer sentido é fundamentalmente infeliz, pois não tem motivo algum para viver”. E conclui: “Só uma vida dedicada aos outros merece ser vivida”.
Todos os anos, os cristãos são convidados a olhar mais para a vida do próximo e para cuidar das outras formas de vida, através da Campanha da Fraternidade. Nesse ano, ela aborda a vida, como dom e compromisso. Na sua introdução, o Texto-base da CNBB se pergunta: “Teríamos deixado perder o sentido mais profundo da vida? Diante, por exemplo, de concepções de felicidade individualista e consumista, não estaríamos nos esquecendo do significado maior da existência? Por que vemos crescer tantas formas de violência, agressividade e destruição? Perdemos, de fato, o valor da fraternidade?”. Assim sendo, a Campanha da Fraternidade de 2020 nos convida a buscar o significado mais profundo da vida e a encontrar caminhos para que este sentido seja fortalecido e, por vezes, até mesmo reencontrado. Sobretudo nestes tempos em que um vírus invisível ameaça a vida humana do planeta, somos convidados a olhar o sentido mais profundo que damos à vida nas suas diversas dimensões: pessoal, comunitária, social e ecológica. Para tal, é preciso superar a indiferença e estimular a solidariedade. Dentro deste espírito quaresmal, afirma ainda, em sua introdução, o mesmo Texto-base: “Permita o Bom Deus que cada pessoa, cada grupo pastoral, movimento, associação, Igreja Particular e o Brasil inteiro, motivados pela Campanha da Fraternidade, possam ver fortalecida a revolução do cuidado, do zelo, da preocupação mútua e, portanto, da fraternidade”.
Caros diocesanos. Hoje fazemos nós esta pergunta: - Qual o sentido de minha, de sua vida? Em que direção nós vamos? Jesus disse: “Onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração” (Mt 6, 21). Quais são os verdadeiros tesouros de nossa vida? O mundo atual não é definitivo. Estamos de passagem nesta terra; até um vírus invisível pode nos ameaçar. Nossa morada se perpetuará com Deus, na eternidade, se tivermos optado por Ele, que nos deseja na sua comunhão eternamente. Aqui é bom lembrar Bento XVI: “Aquele que crê tem futuro”. Desejamos a todos abençoado tempo de preparação à Páscoa, cheio de sentido para a vida! Cristo vive e ele nos quer vivos!
Dom Aloísio Alberto Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul.