Caros diocesanos. O dinamismo da esperança move a nossa vida. Estamos chegando ao final de mais um Ano litúrgico e prontos a iniciar o novo, já próximo, com o Advento - tempo privilegiado para fazermos uma profunda experiência de pessoas que esperam, como fala a Igreja: “Tempo de feliz e piedosa expectativa”. Vivemos a espera da vinda do Salvador entre nós: a presença de Jesus Cristo, o Filho de Deus, que assume a nossa condição humana. É a troca de dons entre o céu e a terra, como reza a liturgia do Natal.
Igualmente, estamos vivendo um final de ano que, certamente, em meio a aspectos positivos, ficará também marcado por muitas e frustrantes experiências em nosso país, seja no sentido político e econômico, social e ético, mas sobretudo da saúde por causa da pandemia do coronavírus covid-19, que continua a assolar o país e o mundo. Até já percebemos uma certa apatia e conformismo anestesiado em relação ao nosso futuro. Igualmente nos damos conta o quanto somos enganados com as efêmeras promessas de felicidade através da visão egoísta da vida que endeusa o poder de mercado, o consumismo insaciável e o bem-estar como objetivo último da vida. Podemos também tirar lições positivas em meio à situação difícil. Está ficando sempre mais claro o que realmente é importante na vida: sua origem, sua dignidade, os seus verdadeiros valores, seu destino. Não podemos conceber uma vida humana sem perspectiva de esperança. Como diz a sabedoria popular: “A esperança é a última que morre”. Aprendamos todos que é preciso retomar os valores fundamentais da vida humana e cívica, da vida orientada pela ética e pelo espírito cristão. Se continuarmos a nos alimentar com falsas e fictícias esperanças, poderemos chegar ao que chamamos de “desesperança”, o que pode trazer consequências imprevisíveis para o presente e para o futuro.
A esperança é fundamental para que o ser humano encontre um sentido para sua vida. Ela faz parte de nossa natureza humana. Para nós cristãos, esta dinâmica da esperança é ainda maior e mais intensiva, pois em Jesus Cristo já se realizou o que nós esperamos e Ele nos dá a certeza de que também nós, unidos a Ele, poderemos participar dessa realização. Tudo isso inicia com a presença de Deus entre nós. Sua encarnação torna-se o momento alto, que a Escritura chama “plenitude dos tempos” (Gl 4, 4): Deus vem habitar entre nós e torna possível que nossa esperança de vida plena e de eternidade feliz se realize, já iniciando neste mundo. Vivamos intensamente este mistério na celebração do Natal cristão. Para esta experiência não bastam mesas fartas, enfeites luminosos, presentes generosos e figuras de Papai Noel para todos os lados; ou mesmo algumas “preces mágicas” pelas redes sociais, mas distantes de uma verdadeira vida cristã, que se caracteriza pelo cultivo fiel da filiação divina e da pertença à comunidade, onde Deus se faz presente de forma privilegiada.
Por isso, celebremos o Natal com a presença de Jesus Cristo e sua nova forma de viver no espírito da justiça, da fraternidade e do amor. Neste ano da pandemia inspiremo-nos em Maria Santíssima que, segundo o Papa Francisco, soube transformar um curral de animais na casa de Jesus, com uns pobres paninhos e uma montanha de ternura: “Como Mãe de todos, é sinal de esperança para os povos que sofrem as dores do parto até que germine a justiça” (EG 286). Que Advento e Natal sejam tempos privilegiados para reconstruir a esperança de um pós-pandemia, com melhor normalidade, a partir de Deus.
Dom Aloísio Alberto Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul.