Caros diocesanos. O Ano Litúrgico é a celebração dos principais fatos ou acontecimentos da História de nossa Salvação, no espaço de um ano. Em cada celebração litúrgica está presente todo mistério da salvação, mas em cada dia ou tempo do Ano Litúrgico destaca-se um determinado aspecto deste mistério, sendo que todos se orientam para o mesmo centro: a Páscoa. Na quarta-feira de cinzas iniciamos o tempo da Quaresma, que dá início ao longo ciclo da Páscoa, o qual inicia com a Quaresma, é seguido pela sua celebração central, o Tríduo pascal da Semana santa, e prolonga-se nos cinquenta dias (tempo pascal); sendo concluído na solenidade de Pentecostes.
O tempo litúrgico da Quaresma foi introduzido, já no IV século da era cristã, com o objetivo de preparar bem a celebração da Páscoa. Nos primórdios do cristianismo, o Batismo era celebrado, na maioria das Igrejas, somente na noite de Páscoa, para mostrar como este sacramento está ligado à morte e ressurreição de Jesus Cristo (Rm 6, 3-4). Se, inicialmente, a Quaresma era um tempo de preparação ao Batismo, aos poucos, tornou-se ocasião para todos os cristãos retomarem o que prometeram por ocasião da celebração deste sacramento de iniciação à vida cristã. Muito cedo, atribuiu-se a este tempo uma conotação penitencial, através da prática do jejum, da esmola e da oração, como ainda fazemos hoje, inspirados no capítulo sexto do Evangelho de Mateus (Mt 6, 1-18).
A Quaresma, portanto, recebeu uma conotação de penitência, de conversão de vida. É tempo de voltarmos para o estado original, como Deus nos quer, a partir da dignidade recebida no Batismo. A conversão consiste em mudar o modo de ser, de viver, de agir, de relacionar-se. Uma vida segundo o Evangelho. Por isso, no rito da quarta-feira de cinzas, no momento da imposição, o ministro diz: “Convertei-vos e crede no Evangelho”. O centro do Evangelho é o mandamento do amor, ensinado por Jesus Cristo, por palavras e pelo testemunho vivo, ao dar sua vida por nós.
Como brasileiros, desde 1964, estamos acostumados a viver a Campanha da Fraternidade, neste tempo da Quaresma. É a forma original, brasileira, de viver o mandamento da caridade, do amor ao próximo, concretamente. Nós queremos fazer a campanha de sermos mais irmãos, ou seja, uma campanha de fraternidade. É a retomada de consciência do que aconteceu no Batismo: tornamo-nos irmãos e irmãs, em Jesus Cristo, filhos e filhas do mesmo Pai. Na Campanha da Fraternidade, em todos os anos, a Igreja do Brasil nos aponta para um dos aspectos concretos da nossa relação fraterna. Em 2020, o tema central é: “Fraternidade e Vida: Dom e Compromisso”. Nesse contexto é feita também, em todas as comunidades, uma coleta para ajudar os irmãos e irmãs mais necessitados, cuja vida é mais ameaçada do que a nossa. Queremos ajudá-los, sobretudo através de projetos sociais, para que tenham vida mais digna. Esta coleta, feita no Domingo que antecede a Páscoa, é chamada de Coleta Nacional da Solidariedade.
Finalmente, lembramos que o carnaval é a festa de despedida, antes de iniciar este tempo de penitência e de conversão. O cristão saberá respeitar a espiritualidade da Quaresma, do começo até o fim, e não viverá indiferente à proposta de sua Igreja, que convida a preparar-se dignamente para a solenidade máxima da vida cristã: a Páscoa.
Dom Aloísio Alberto Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul.