Caros diocesanos. O mês de dezembro, para nós cristãos, sempre se caracteriza pela preparação e celebração do Natal, que torna presente o nascimento de Jesus Cristo, o Verbo que se fez carne (cf. Jo 1, 14). Para nossa reflexão neste tempo de tanta riqueza, desejamos apresentar um documento da CNBB, emitido em 2021, que fala sobre este mistério da presença de Deus entre nós, com o título: “E a Palavra habitou entre nós”, destacando a importância da animação bíblica de toda pastoral a partir das comunidades eclesiais missionárias.
A Igreja existe para evangelizar; esta é sua identidade (EN 14). Ela aprendeu isso de Jesus, que transmitia a vida do Eterno (Jo 6,68) com sua Palavra.
Na Parábola do Semeador (Mt 13,1-9; 18-23), Jesus fala a respeito da própria Palavra de Deus. A semente é a Palavra. Por ela Deus se revela à humanidade. Ela possui espírito e vida e se sustenta do Alto. O Senhor quer a Palavra semeada em toda parte, em todos os tipos de solo. Contudo, há caminhos favoráveis e contrários para acolhê-la. Adesão e acolhimento da Palavra se transformam em frutos de fé ativa e perseverante. Uma fé correspondida que salva. A próprias Palavra torna-se precioso meio de encontro com Jesus Cristo: “Sem a Palavra bíblica facilmente se esgota o diálogo com Deus; sem a leitura da Palavra não é possível o encanto por Jesus Cristo e o encontro com Ele”. A Palavra de Deus é fonte de vida para a Igreja e alma de sua ação evangelizadora: “Desconhecer a Escritura é desconhecer Jesus Cristo e renunciar a anunciá-lo” (DAp 247).
O Papa Bento XVI propôs uma animação bíblica da pastoral inteira e que é exercitada por todos os agentes evangelizadores. Todos tenham o ânimo interior originado do encontro com o Senhor mediante a Palavra, caminho de conversão pessoal e pastoral. “A Igreja funda-se sobre a Palavra de Deus, nasce e vive dela” (VD 3). Este anúncio da Palavra se realiza principalmente em Comunidades Eclesiais Missionárias que oferecem ambiente humano de proximidade e confiança que favorece a partilha de experiências e ajuda mútua. O processo de Iniciação à Vida Cristã, via Leitura Orante da Palavra de Deus, está obtendo igualmente frutos valiosos.
A Palavra de Deus também encontra desafios para uma fecunda semeadura. É preciso dar acesso à Sagrada Escritura para todos, sem devocionismos ou leituras individualistas e consumistas da Bíblia, mas deve permear as realidades do mundo e ser fonte de santificação da vida cotidiana. A Palavra não é um livro, mas uma pessoa: Jesus Cristo. Assim passa-se de uma compreensão instrutiva para uma compreensão comunicativa da revelação. Esse processo necessita do primeiro anúncio: encontro vivo com o Cristo-Palavra. Não subsiste uma fé que depende exclusivamente de ritos e costumes da religiosidade popular, com pouca adesão a Cristo e à comunidade eclesial. A Palavra possibilita o encontro pessoal e comunitário com Cristo, do qual surge o testemunho e a consequente credibilidade do anúncio.
A Palavra de Deus foi escrita sob a luz do Espírito Santo e por isso deve ser lida e interpretada sob o olhar do mesmo Espírito, que dá a unidade entre o hoje e o ontem. É preciso evitar as leituras fundamentalistas ou literalistas, ou seja, leitura ao pé da letra ou fora do contexto, muitas vezes para justificar posturas subjetivas, contrárias ao que Jesus e a tradição da Igreja ensinam.
Que o tempo de Advento nos prepare para acolher a Palavra que se fez carne e veio habitar entre nós. Na próxima semana continuaremos a refletir esse tema.
Dom Aloísio Alberto Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul