Caros diocesanos. Continuamos a celebrar a Páscoa, festa máxima da vida cristã. Não paramos de cantar o Aleluia pascal para louvar o Senhor pela salvação que nos concedeu em seu amor. Celebramos a ressurreição, especialmente, em todos os domingos do ano litúrgico. Cada domingo é o Dia do Senhor. É sobretudo a eucaristia que torna o Senhor presente (ressuscitado) entre nós. No ano da eucaristia em nossa diocese, desejamos aprofundar esse tema, pois não é domingo porque ele está no calendário, mas porque a eucaristia, por excelência, torna o Senhor ressuscitado presente entre nós. Os evangelistas informam que a ressurreição se deu no “primeiro dia da semana”. As aparições também aconteceram no domingo, sendo igualmente o dia escolhido para a vinda do Espírito Santo. Assim ele se tornará o dia, por excelência, para a celebração do Mistério pascal, especialmente pela eucaristia, e o núcleo central, o fundamento de todo ano litúrgico (SC 106). Como vemos, o domingo está estreitamente ligado à eucaristia. É ela que, neste dia, torna presente o Senhor ressuscitado. Um se ordena ao outro.
A expressão “Dominicus dies = Dia do Senhor” aparece pela primeira vez no Apocalipse (Ap 1,10), pelo ano 97 d. C., e logo será chamado por “Dominicus” (Domingo) nas línguas latinas. O Domingo é, portanto, uma criação originariamente cristã e não uma simples troca do sábado judaico pelo domingo. A celebração tinha inicialmente lugar à hora vespertina e estendia-se noite adentro, mas já no primeiro século passa a ser celebrada na aurora do domingo, uma vez que as reuniões noturnas eram consideradas ilícitas pelas autoridades do Império Romano.
Pelo ano 150 d.C., São Justino nos deixa uma preciosa descrição de como era, nessa época, a celebração eucarística. Ele chama o domingo como o “Dia do Sol” (Sonntag, Sunday...), em que os fiéis da cidade e do interior se reúnem no mesmo lugar. Faz-se a leitura dos profetas e dos apóstolos... (AT e NT). Chama-se “Dia do Sol” porque lembra o dia no qual Deus criou a luz e Jesus Cristo ressuscitou dos mortos, pois Ele é o “sol da justiça” (Ml 3, 20), a “luz do mundo” (Jo 8, 12), a “luz para iluminar as nações” (Lc 2, 32), a “luz dos homens” (Jo 1, 4). Quem segue Jesus Cristo não anda nas trevas, mas tem a luz da vida (Cf. Jo 12,46).
Somente em 321 d.C., por ordem do Imperador cristão Constantino, o domingo é declarado também como dia de repouso, a fim de que todos pudessem participar da celebração eucarística. Integra-se o descanso e o ato celebrativo do domingo, estando o primeiro a serviço do segundo: "Este é o dia que o Senhor fez para nós! Alegremo-nos e nele exultemos” (Sl 117, 24)! O preceito dominical é consequência de uma correta compreensão do domingo e da eucaristia.
Para os cristãos que não podem participar de celebração eucarística nos domingos existe a opção pela Celebração da Palavra de Deus, com a possibilidade de Comunhão, distribuída pelos ministros: “Podem alimentar seu já admirável espírito missionário participando da ‘celebração dominical da Palavra’, que faz presente o Mistério Pascal no amor que congrega (cf. 1Jo 3, 14), na Palavra acolhida (cf. Jo 5, 24-25) e na oração comunitária (cf. Mt 18, 20)” (DAp 253). Porém, a presença do Senhor ressuscitado se manifesta, por excelência, mas não única, na celebração da Eucaristia, pois é a celebração mais plena para o Dia do Senhor. O Domingo é também o dia da comunidade, pois nele festejamos nossa identidade eclesial e de caridade fraterna (1Cor 16,2; 2Cor 8,13-14).
Dom Aloísio Alberto Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul