Caros diocesanos. Já refletimos anteriormente que os sacramentos da Iniciação à Vida Cristã têm profunda relação com o mistério pascal. Para preparar bem a Páscoa e a celebração dos respectivos sacramentos da iniciação cristã, introduziu-se, já no quarto século da era cristã, o tempo da Quaresma. Já sabemos igualmente que nos primórdios do cristianismo, os Sacramentos da Iniciação à Vida Cristã (Batismo, Crisma e Eucaristia) eram celebrados, na maioria das Igrejas, somente na noite de Páscoa, para mostrar como estes sacramentos formam unidade e estão ligados à morte e ressurreição de Jesus Cristo. Se inicialmente a Quaresma era um tempo de preparação intensiva (purificação e iluminação) aos sacramentos da iniciação cristã, da parte dos chamados catecúmenos (aqueles que eram batizados, crismados e recebiam pela primeira vez a Eucaristia), aos poucos, tornou-se também ocasião para todos os cristãos retomarem o que prometeram por ocasião da celebração destes sacramentos. Assim entendemos porque, até hoje, se insiste que a quaresma é tempo de conversão de vida e se faz a renovação das promessas do Batismo na Vigília pascal ou se realiza a celebração do sacramento do Batismo.
Muito cedo, atribuiu-se a este tempo quaresmal uma conotação penitencial, através da prática do jejum, da esmola e da oração, como ainda fazemos hoje, inspirados no Capítulo 6 de Mateus (cf. Mt 6, 1-18). Portanto, vemos que a quaresma é tempo de penitência, de conversão de vida. É tempo de voltarmos nossa vida para o estado original, como Deus nos deseja, desde o Batismo, que perdoa todo pecado, nos faz filhos e filhas de Deus, irmãos e irmãs em Jesus Cristo, portanto, como novas criaturas (cf 2Cor 5, 17-18a). A conversão consiste em mudar o modo de ser, de viver, de agir, de relacionar-se, segundo o Evangelho, assim como Cristo propôs. É por isto que no rito da Quarta-Feira de Cinzas, no momento da imposição, o ministro diz: “Convertei-vos e crede no Evangelho” (cf. Mc 1, 15). Crer no Evangelho significa aderir a ele, viver conforme ele orienta. No Evangelho aprendemos que seu centro é o Mandamento do amor, que Jesus Cristo nos ensinou, por palavra e por testemunho vivo, ao dar sua vida para nos salvar.
Compreendemos, desta forma, porque a Igreja, em suas celebrações litúrgicas quaresmais, escolhe leituras da Palavra de Deus, com muito critério. Nos domingos do Ano A: tema da Iniciação à Vida Cristã, desde os primeiros séculos do cristianismo; Nos domingos do Ano B: tema da Aliança de Deus com seu Povo; Nos domingos do Ano C: tema da Fé e Conversão. Com isso percebemos que a própria Palavra de Deus vai nos conduzindo no processo de conversão quaresmal. É preciso entender a Campanha da Fraternidade dentro desse contexto. Ela não substitui a progressiva orientação da Palavra de Deus, mas é consequência concreta dela. Todos os anos destacamos um aspecto palpável de fraternidade, de compromisso solidário com os outros, convidando para a conversão frente a situações em que irmãos e irmãs não têm vida digna ou quando seus direitos não são respeitados, contradizendo o sermos cristãos, o sermos irmãos e irmãs na mesma família de Deus e da Igreja. A opção pelos necessitados, com afirmam os documentos da Igreja, é constitutiva de nossa fé cristã (DAp 392).
A quaresma que se aproxima nos ajude a renovar nosso ser cristão, sobretudo na relação com Deus, com os irmãos e irmãs, iniciada em nosso Batismo.
Dom Aloísio A. Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul