Palavra do Bispo voltar
10/07/2018 - Ano do Laicato 02

Caros diocesanos. A Igreja do Brasil vive, em 2018, o Ano do Laicato. O tema escolhido para animar sua mística é: “Cristãos leigos e leigas, sujeitos na Igreja em saída, a serviço do Reino” e o lema: “Sal da terra e luz do mundo” (Mt 5, 13-14). Para seguirmos no aprofundamento desta temática eclesial tão importante, vamos dedicar as seguintes mensagens semanais para o recente documento da CNBB, emitido na Assembleia Geral dos Bispos, no ano de 2016: “Cristãos Leigos e Leigas na Igreja e na Sociedade”. Já na sua introdução, o texto acentua que cada cristão leigo e leiga é chamado a ser sujeito eclesial para atuar na Igreja e no mundo. O Concílio Vaticano II enfatizou particularmente a índole secular que caracteriza o ser e agir dos leigos, tendo como vocação própria administrar e ordenar as coisas temporais, em busca do Reino de Deus. Sua vocação específica é viver o seguimento de Jesus na família, na comunidade eclesial, no trabalho profissional, enfim, na multiforme participação da sociedade civil, colaborando na construção de uma sociedade justa, solidária e pacífica, sinal do Reino de Deus. Portanto, verdadeiros sujeitos eclesiais nas diversas realidades em que se encontram inseridos, ou seja, fazem acontecer o ser Igreja no mundo: “Homens e mulheres da Igreja no coração do mundo e homens e mulheres do mundo no coração da Igreja” (cf. DP 786 e DAp 209). Ou como afirmam ainda os bispos latino-americanos: “São protagonistas da transformação da sociedade” (DSD 98). Neste contexto o documento da CNBB lembra a famosa Carta a Diogneto (n. 6): “Assim como a alma está no corpo, assim os cristãos estão no mundo. A alma está espalhada por todas as partes do corpo; os cristãos, por todas as partes do mundo. A alma habita no corpo, mas não procede do corpo; os cristãos habitam no mundo, mas não pertencem ao mundo”.          
A partir do Concílio Vaticano II, evoluiu a consciência da identidade e da missão dos cristãos leigos e leigas, com avanços e recuos. Os avanços são percebidos na maior participação e missão evangelizadora, na organização dos diversos conselhos, na formação geral, no exercício de ministérios, no surgimento de novas comunidades e associações de leigos em comunhão com a Igreja, no testemunho cristão na sociedade, nos movimentos sociais, etc. Enfim, podemos afirmar com a CNBB: “Eles se santificam nos altares do seu trabalho: a vassoura, o martelo, o volante, o bisturi, a enxada, o fogão, o computador, o trator. Constroem oficinas de trabalho e oficinas de oração” (n. 35). Mas existem também recuos. É ainda insuficiente e até omissa a presença leiga nas estruturas e realidades do mundo: nos areópagos da universidade, da comunicação, da empresa, do trabalho, da política, da cultura, da medicina, do judiciário, além de outros. O primeiro âmbito de ação e serviço dos leigos ainda não é o testemunho nas realidades do mundo, mas no interior da própria Igreja. Com essa tendência descuida-se facilmente da dimensão social e caritativa do Evangelho, constitutiva de nossa fé cristã. Sem esquecer das chagas do comodismo e devocionismo, da carência de formação, da tendência de caráter tradicionalista, clerical e sacramentalista, além de outros. Dessa forma, vemos que é preciso retomar o verdadeiro espírito do Concílio Vaticano II, ao valorizar os leigos: o primeiro campo e âmbito da missão do cristão leigo é evangelizar o mundo. A realidade secular é o campo próprio da sua ação evangelizadora. Sua vocação específica é estar no meio do mundo, à frente de tarefas variadas da ordem temporal.


Dom Aloísio A. Dilli 
Bispo de Santa Cruz do Sul
Ouça a catequese do Bispo