Caros diocesanos. Na programação do nosso Plano Diocesano de Pastoral estamos dedicando, no presente ano de 2018, uma atenção especial ao sacramento do Batismo, dentro do processo de Iniciação à Vida Cristã. Num primeiro momento nossa atenção se dirige ao próprio Batismo de Jesus, que celebramos há pouco, no final do ciclo natalino. Já é do nosso conhecimento que o Natal não é uma festa isolada, mas faz parte de todo um ciclo litúrgico que inicia com o Advento, como fase preparatória de feliz e piedosa expectativa; depois celebra o nascimento de Jesus, em Belém, envolvendo os anjos que anunciam a Boa-Nova aos pastores; passa pela festa da Sagrada Família e pelas solenidades da Mãe de Deus e da Epifania (Manifestação), concluindo-se com o Batismo do Senhor. Este ciclo forma unidade, apresentando diversos aspectos e respectivas conseqüências do mistério da encarnação do Filho de Deus. Hoje, nós estamos envolvidos neste mistério, tornando-nos personagens desta história de salvação.
Voltando ao tema do Batismo, muitos fazem a curiosa pergunta: - Por que Jesus foi batizado, se Ele é o Filho de Deus, o Salvador? De fato, Jesus não tinha necessidade de ser batizado, não precisava ser redimido, mas ele o quis, em sinal de solidariedade para conosco. Conhecendo o amor do Pai, Jesus deseja manifestá-lo a toda humanidade. São Paulo o afirma com estas palavras: “Aquele que não cometeu pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele nos tornemos justiça de Deus” (2Cor 5, 21). O teólogo Pe Antônio José de Almeida assim se expressa em relação a este modo de ser de Jesus Cristo: “Não é o redentor que precisa ser redimido. Somos nós, pecadores, que precisamos, e ele veio ao nosso encontro, entrando na nossa situação, ‘na fila dos pecadores’. Jesus se revela o Filho justamente indo ao encontro dos irmãos mais necessitados, os pecadores, isto é, todos” (O Pão Nosso de Cada Dia, Ed. 109, 2015, p. 39). A cena do Batismo nos descreve em profundidade o significado do mistério da encarnação: Deus assume nossa condição humana para que nós tenhamos acesso ao divino. Assim entendemos bem porque a liturgia do Batismo de Jesus faz parte do ciclo do Natal, celebração do Emanuel = Deus conosco.
O Evangelho relata que Jesus, após seu batismo, ao sair das águas, “viu o céu se abrindo, e o Espírito, como pomba, descendo sobre ele. E do céu veio uma voz: ‘Tu és o meu Filho amado, em ti ponho meu bem-querer” (Mc 1, 10-11). É uma belíssima revelação Trinitária: o Pai confirma seu amor pelo Filho, o qual inicia seu ministério salvador, cheio do Espírito Santo. Afirma José A. Pagola: “Finalmente era possível o encontro com Deus. Sobre a terra caminhava um homem cheio do Espírito de Deus. Chamava-se Jesus e vinha de Nazaré” (O Pão Nosso de Cada Dia, idem, p. 40). Sim, o Reino de Deus estava presente, no meio de nós, e quis permanecer para sempre. Chegou a nossa vez de acolhê-lo.
A liturgia seguidamente nos convida a renovar o nosso Batismo, nossa filiação divina e o nosso ser irmão/irmã de Jesus e dos outros, junto com os quais podemos rezar, chamando a Deus de Pai-Nosso, como rezamos tantas vezes. Também nós desejamos acolher o Espírito Santo, como Jesus o fez, e nos deixarmos reavivar e recriar para agirmos como Ele. Então os céus vão se abrir, também para nós!
Dom Aloísio A. Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul