Caros diocesanos. Na mensagem anterior abordamos o tema da amizade e percebemos o quanto ela é importante em nossa vida. Saint Exupéry nos ajudou, com seu Pequeno Príncipe, a descobrir o valor, a beleza e a responsabilidade de uma verdadeira amizade entre as pessoas humanas. Hoje desejamos perguntar-nos: - E a nossa amizade com Deus, como vai? Sabemos expressá-la em nossas orações ou estas se tornam apenas recitação de fórmulas decoradas, ou algo parecido como troca de favores com Deus? A oração não é uma gaveta isolada, com preces de poder que não falham. O qualidade de nossa oração é proporcional ao espírito de fé e amor com que a fazemos. Rezar é um diálogo familiar com Deus, que brota de um ato de fé e de um ato de amor e que nos leva a entrar na vontade, no plano de Deus que nos oferece gratuita salvação e nos deseja participantes de sua vida divina. Rezar não é apenas orar com os lábios, mas também com a inteligência, com o coração e com toda a nossa vida. Ela deve unificar nossa vida diária com Deus. A oração requer um clima de amizade com Deus; ela deve manifestar uma consciência de que temos um Pai, e não somos órfãos na vida. Vejamos como Jesus reza e ensina a rezar, através do “Pai Nosso”.
O Evangelho nos ensina que os apóstolos, ao verem Jesus em profunda oração, sentem a necessidade de orar e de aprender a orar: “Senhor, ensina-nos a rezar”. É dentro desse contexto que Jesus ensina o “Pai Nosso” aos discípulos (Lc 11, 1-4 e Mt 6, 9-13), revelando a paternidade divina. A oração se desenvolve num diálogo direto entre um “Tu”, que é o Pai de Jesus e também o nosso, e um “nós”, em comunhão com o Filho e com os irmãos e irmãs.
A oração do “Pai Nosso” inicia com uma invocação bem direta, manifestando familiaridade e confiança, e reconhecendo o verdadeiro atributo de Deus: Ele é o Santo, a fonte de toda santidade. Segue o primeiro pedido: que venha o Reino do Pai e que se torna também o nosso Reino, na medida que somos beneficiados por ele. Será um Reino de justiça, de amor e paz, de liberdade, de fraternidade e que vai beneficiar a todos, conforme a vontade de Deus.
"Senhor, ensina-nos a rezar..."
A segunda parte do “Pai Nosso” inicia com novo pedido, muito ligado com nosso viver diário: todos precisamos do pão e demais coisas necessárias para uma vida digna, o que não dispensa o nosso esforço e o nosso trabalho. Jesus ensina a pedir com confiança o pão que precisamos a cada dia, sem acumular. Uma leitura mais ampla nos sugere que, além do pão material, nós necessitamos também de outro pão: a Eucaristia, o Pão vivo descido do céu (cf. Jo 6, 51).
Segue o pedido do perdão divino e humano, interligados entre si. Não é possível rezar o “Pai Nosso”, tendo ódio no coração. O amor e a união com Deus e os irmãos só é possível pelo caminho do perdão. Colocamos nas mãos de Deus o critério para nos julgar: “como nós perdoamos”.
Não é Deus que nos tenta, mas é Ele que nos pode ajudar para não cairmos na tentação, sobretudo pelo abandono da fé, dos projetos de Deus para abraçar o espírito do mundo: as tentações do ter, do poder, do prestígio. E no fim, pedimos que nos livre de todo mal.
Como é bom podermos rezar ou falar com Deus, como nosso amigo, na sinceridade do coração.
Dom Aloísio Alberto Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul.