Caros diocesanos. O Papa Francisco instituiu o Dia dos Pobres, com o objetivo de os cristãos terem presente os/as que sofrem e precisam de um olhar mais atencioso e misericordioso. Para o sétimo Dia Mundial dos Pobres, 23 de novembro próximo, o Santo Padre escreveu uma mensagem com o título: “Nunca afastes de algum pobre o teu olhar” (Tb 4,7). O Papa não pensa apenas em fazer algo esporadicamente para alguém que nos pede uma esmola, mesmo que isso também possa ser importante, mas sobretudo no cuidado de fazermos o possível que está ao nosso alcance para que haja caridade fraterna entre todas as pessoas, justiça nas relações humanas, dignidade de vida para com todos/as, misericórdia com os mais desfavorecidos, enfim, vida digna para todos/as.
O tema da mensagem do Papa evoca um texto bíblico do Antigo Testamento, quando o pai de Tobias se despede do filho, com as últimas recomendações: “Lembra-te sempre, filho, do Senhor, nosso Deus, em todos os teus dias, evita o pecado e observa os seus mandamentos. Pratica a justiça em todos os dias da tua vida e não andes pelos caminhos da injustiça. ... Dá esmolas, conforme as tuas posses. Nunca afastes de algum pobre o teu olhar, e nunca se afastará de ti o olhar de Deus” (Tb 4, 5 e 7). Os conselhos do pai, na despedida do filho, não são belas teorias ou ideologias para dominar sobre os outros, mas orientações de vida, bem concretas, como o temor de Deus e a caridade com os outros/as, o que se tornará o mandamento maior de Jesus. O Papa lembra que, quando nos deparamos com um pobre, não podemos virar o olhar para o lado, porque impediríamos a nós próprios de encontrar o rosto do Senhor Jesus: “Cada um deles é nosso próximo. Não importa a cor da pele, a condição social, a proveniência... Somos chamados a ir ao encontro de todo o pobre e de todo o tipo de pobreza, sacudindo de nós mesmos a indiferença e a naturalidade com que defendemos um bem-estar ilusório”.
Vivemos um momento que não favorece muito a atenção aos pobres: “Coloca-se entre parênteses aquilo que é desagradável e causa sofrimento, enquanto se exaltam as qualidades físicas como se fossem a meta principal a alcançar”. Assim, a parábola do bom samaritano (cf. Lc 10,25-37) não é história do passado, mas desafia o presente de cada um de nós. Delegar a caridade a outros (organizações governamentais, filantrópicas e outras similares) é fácil; oferecer dinheiro para que outros pratiquem a caridade já é uma ação generosa; mas envolver-se pessoalmente é a vocação de todo o cristão, pois a caridade é inerente ao nosso ser cristão.
Damos graças a Deus por tantos homens e mulheres que se dedicam aos pobres e excluídos e partilham a vida com eles; pessoas de todas as idades e condições sociais que praticam a hospitalidade e se empenham por aqueles que se encontram em situações de marginalização e sofrimento. Não são super-homens ou mulheres, mas que, no silêncio, se fazem pobres com os pobres. Não se limitam a dar qualquer coisa: escutam, dialogam, procuram compreender a situação e as suas causas, para dar conselhos adequados e indicações justas. Estão atentos às necessidades materiais como às espirituais, ou seja, à promoção integral da pessoa. Neste serviço o Reino de Deus se faz presente e visível.
Concluímos com o que já dizia o Papa João XXIII, na “Pacem in Terris”: “O ser humano tem direito à existência, à integridade física, aos recursos correspondentes a um digno padrão de vida: tais são especialmente a nutrição, o vestuário, a moradia, o repouso, a assistência sanitária, os serviços sociais indispensáveis. Segue-se daí, que a pessoa tem também o direito de ser amparada em caso de doença, de invalidez, de viuvez, de velhice, de desemprego forçado, e em qualquer outro caso de privação dos meios de sustento por circunstâncias independentes da sua vontade” (n. 11).
Dom Aloísio Alberto Dilli – Bispo de Santa Cruz do Sul