Caros diocesanos. Hoje falaremos sobre a vocação da vida consagrada ou vida religiosa. Os consagrados e as consagradas entregam sua vida através dos votos solenes ou perpétuos. A palavra consagração, em sentido amplo, pode significar: tornar sagrado, dedicar uma coisa ou pessoa à divindade. O que é consagrado, portanto, começa a pertencer a Deus, torna-se propriedade exclusiva dele e é reservado para o seu serviço, como por exemplo um altar consagrado para o culto divino ou uma pessoa que se consagra pelos votos. A consagração religiosa, pela profissão dos conselhos evangélicos, faz pertencer plenamente a Deus e coloca o consagrado, a consagrada unicamente a serviço de seu reino. 

Sendo a consagração iniciativa de Deus, é preciso igualmente acontecer, por parte da pessoa, uma entrega progressiva, total e livre. A partir da resposta generosa e oblativa nasce uma profunda aliança de amor e de fidelidade, a ser renovada e confirmada constantemente. Cria-se espaço para a experiência de Deus, decisiva na vida e na missão do consagrado e da consagrada. A comunhão de vida com o mesmo Senhor cria laços de fraternidade. Desta fonte decorre também a missão evangelizadora, criando comunidades evangelizadoras ou comunidades em missão, sua razão de ser.

O fundamento evangélico da vida consagrada deve ser procurado na relação especial de Jesus com alguns de seus discípulos/as, convidando-os/as não só a acolherem o reino de Deus, mas também a colocarem a própria existência totalmente ao serviço dessa causa, deixando tudo e imitando mais de perto a sua forma de vida. A escuta da palavra, a oração, a vida fraterna e o zelo apostólico dão sustento e força nesta maneira de seguimento a Jesus (VC 9), a modo contemplativo ou mais apostólico-missionário.

A partir do Concílio Vaticano II e das Conferências Latino-Americanas, os consagrados/as foram convidados/as a ter uma atenção especial para com os pobres. Esta opção está na própria dinâmica do amor vivido por Jesus Cristo. Hoje, são muitas as congregações que respondem a esta opção pelos pobres: “pobres, nas várias acepções da pobreza, são os oprimidos, os marginalizados, os idosos, os doentes, as crianças abandonadas, todos aqueles que são considerados e tratados como ‘últimos’ na sociedade” (VC 82). O Documento de Aparecida afirma que a vida consagrada é dom precioso que vem da parte de Deus. Com o seu testemunho “os consagrados/as são chamados/as a fazer de seus lugares de presença, de sua vida fraterna em comunhão e de suas obras, lugares de anúncio explícito do evangelho” (DAp 217). Para Bento XVI “viver no seguimento de Cristo casto, pobre e obediente é uma ‘exegese’ viva da Palavra de Deus” (VD 83). E como afirma a carta circular “Alegrai-vos” (2015): “A fraternidade é o primeiro e mais credível Evangelho que podemos narrar... Uma fraternidade sem alegria é uma fraternidade que se apaga”. 

Pelos votos os consagrados/as investem um conjunto de energias e capacidades positivas da vida que, na forma consagrada, tornam-se meios fecundos para o fim maior do reino de Deus. Eles são acolhidos, professados livremente e com amor, o que não isenta do sacrifício, da renúncia e até da ascese e da disciplina. Os votos fazem parte da consagração e são vistos na perspectiva da comunhão e da missão, tornando-se desafios que revelam a missão profética da vida consagrada (VC 72 ss.). É na fidelidade criativa que os carismas se atualizam na história da Igreja, diante das novas exigências reveladas na leitura dos sinais dos tempos. Que Maria, modelo de seguimento fiel e radical ao plano de Deus, abençoe e inspire nossos consagrados e consagradas!

Dom Aloísio Alberto Dilli

Bispo de Santa Cruz do Sul