Caros diocesanos.
Creio que o maior desafio de todos os tempos é o mesmo que os apóstolos
receberam do Senhor, após a Ressurreição: “Ide,
pois, e fazei discípulos todos os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho
e do Espírito Santo. Ensinai-os a observar tudo o que vos mandei. Eis que estou
convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28, 19-20). Por isso, São
Paulo fala à comunidade de Corinto: “Ai
de mim, se eu não anuncio o Evangelho” (1Cor 9,16); e o Papa Paulo VI, hoje
santo, logo após o Concílio Vaticano II (1975), afirmava que “Evangelizar constitui, de fato, a graça e a
vocação própria da Igreja, a sua mais profunda identidade. Ela existe para
evangelizar” (EN 14). Esta é, portanto, sua razão de ser. O Documento de
Aparecida (2007) retoma este espírito, ao afirmar: “Necessitamos de um novo Pentecostes! Necessitamos sair ao encontro das
pessoas, das famílias, das comunidades e dos povos para lhes comunicar e
compartilhar o dom do encontro com Cristo, que tem preenchido nossas vidas de
‘sentido’, de verdade e de amor, de alegria e de esperança” (DAp 548).
Continua ainda o Documento de Aparecida: “Conhecer
a Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber; tê-lo encontrado
foi o melhor que ocorreu em nossas vidas, e fazê-lo conhecido com nossa palavra
e obras é nossa alegria” (DAp 29; cf. ainda n. 18). Este espírito
evangelizador, com características alegres, se faz presente quando o Papa
Francisco fala numa Igreja ‘em saída
missionária’ (EG 20), com cheiro de ovelhas (cf. EG 24), em permanente
estado de missão; que não se acomoda, buscando constante conversão pastoral e
missionária (cf. EG 25). Afirma o Papa: “Prefiro
uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma
Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias
seguranças” (EG 49).
Este novo espírito
de conversão missionária precisa perpassar todas as instâncias da vida
eclesial, pela formação permanente, em todos os níveis, sobretudo pelo processo
da Iniciação à Vida Cristã. O ‘querigma’,
primeiro anúncio, precisa ecoar novamente em todos os ambientes, especialmente
onde reina o secularismo, pois as pessoas, a família e as comunidades foram
surpreendidas, sobretudo pelos meios de comunicação social, com uma forma de
viver onde o cultivo da fé não mais está em primeiro lugar e, inclusive, muitas
vezes nem está mais presente na vida das pessoas; onde a família perdeu grande
parte de seus valores; onde a pertença à comunidade tornou-se para muitos um
associar-se para ter alguns direitos, como cemitério e acesso aos sacramentos,
no momento oportuno e de cunho mais social.
Terá que ser uma
Igreja ‘em saída missionária’, fundamentada
na Palavra de Deus, na eucaristia e na caridade, que dará esperança a novos
tempos, talvez em números mais reduzidos de fiéis, com pequenos grupos, mas de
maior testemunho evangélico. Será uma Igreja de opção preferencial pelos mais
pobres ou necessitados, menos devocionista ou de grupos fechados e auto
referenciais, mas de características missionárias, de pertença à comunidade, de
espírito sinodal e samaritano. Esse processo de transformação e conversão
eclesial não é tão simples, pois ele mexe com estruturas da Igreja e mudança no
espírito das pessoas, nos diversos estados de vida, desde o clero, os
religiosos/as até os leigos e leigas. Quando tocamos na conversão pessoal e
pastoral para os verdadeiros valores evangélicos, começam também as reações
contrárias, a sutil defesa de privilégios, dos interesses pessoais ou de
grupos, linhas ideológicas que têm seus objetivos, por vezes encobertos com
belas frases, até bíblicas. Que o Espírito do Senhor e seu santo modo de agir
acompanhe a Igreja e abençoe nosso Papa Francisco para que conduza o Barco de
Pedro, com sabedoria; e a pesca, em águas mais profundas, seja abundante!
Dom
Aloísio Alberto Dilli – Bispo de Santa Cruz do Sul