Caros diocesanos. Durante as duas primeiras décadas do novo milênio, nos acostumamos a ouvir ou ler, nas análises de conjuntura, que não podemos mais falar em época de mudanças, mas em mudança de época (cf. DAp 44 e DG 2019-2023, n. 43ss e DG anteriores). Com isso se dá atenção às grandes e rápidas transformações em curso na história da humanidade, a fim de poder interagir melhor com esta nova realidade, tendo em vista o Reino de Deus. Estas mudanças não se revelam em aspectos secundários, mas atingem as compreensões mais profundas da vida, de Deus, do ser humano, da família, enfim, de toda realidade (cf. DG 2019-2023, nn. 43-44).
Ninguém imaginaria, contudo, que em 2020 nosso planeta se colocaria de joelhos, diante de um vírus microscópico, de origem desconhecida, difícil de combater e letal para milhares de pessoas, em todos os continentes, deixando marcas e consequências sociais, culturais, econômicas, políticas e religiosas indeléveis. A história vai registrar 2020 como um ano excepcional, totalmente diferente dos outros.
Junto com a comunidade mundial, nós brasileiros vivemos um tempo difícil, cheio de incertezas, de orientações confusas e contraditórias, de inúmeras perguntas sem resposta, e as apreensões e o sofrimento não deixaram de rondar próximos de cada um de nós, de nossas famílias e comunidades. A pandemia constituiu-se num verdadeiro tempo de penitência que foi exigindo sábias e criativas respostas, sobretudo, com novas formas de convivência, de expressão da fé, da esperança e da caridade.
Como cristãos, tivemos no Evangelho do Bom Samaritano nossa iluminação maior, junto com a sabedoria de nossa Papa Francisco e das orientações da CNBB. Mais do que nunca foi preciso ver, ter compaixão e cuidar da vida, como indicou a Campanha da Fraternidade: Vida – dom e compromisso. Em nossas orientações diocesanas sempre tentamos seguir esta luz do Evangelho e da Igreja, observando as indicações das autoridades civis e sanitárias regionais; tentamos realizar o que era possível.
A experiência de reclusão em nossas casas, diante da presença do Coronavírus covid-19, desafiou-nos a descobrir novas maneiras de convivência humana, como aconteceu com as celebrações comunitárias em nossos templos. As dificuldades de nos reunirmos nas igrejas fez valorizar mais a presença do Senhor entre nós por outras formas e expressões, especialmente, como pequenos grupos orantes (Igreja doméstica): “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali eu estarei, no meio deles” (Mt 18, 20). Importantes também foram as celebrações acompanhadas por outros meios de comunicação: rádio, TV e redes sociais.
Começamos também a perceber mais a presença do Senhor pela caridade com os irmãos, sobretudo os mais necessitados. Assim damo-nos conta que as mãos que elevamos em oração devem ser as mesmas que se estendem aos irmãos, pois o serviço da caridade é inerente ao nosso ser cristão e não uma questão opcional ou extraordinária.
A pandemia nos ensinou a importância da união das forças no cuidado do precioso dom de nossa vida. Experimentamos na quarentena o quanto somos dependentes da graça divina e dos serviços dos outros. Este tempo de crise nos mostrou a necessidade de voltar os olhos para o essencial da vida: sua origem, seu sentido, seus valores, seu destino.
Concluímos 2020 com a esperança que sejam logo descobertos remédios de cura ou vacinas seguras de prevenção. Com esta expectativa desejamos Feliz Ano Novo!
Dom Aloísio Alberto Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul.