Caros diocesanos.
O mês de setembro evoca para a história de nosso país e também para a Igreja
diversos acontecimentos e temáticas marcantes. Junto com o chamado “Mês da
Bíblia”, o Papa Francisco nos convida a refletir, rezar e acolher os migrantes
e refugiados nas diversas situações migratórias de hoje. Em nossa última visita
à Praça São Pedro, surpreendeu-nos um novo monumento, em seu meio, diferente do
clássico estilo do renascimento, representado por um pequeno barco em bronze
com dezenas de pessoas, todas interligadas, evocando os atuais migrantes e
refugiados de nosso tempo.
O tema das
migrações é de palpável atualidade em nossa casa
comum e a Igreja não poderia omitir-se neste momento de diálogo, quando o
Papa Francisco nos convida para a abertura do coração ao mundo inteiro (Fratelli Tutti – 4º Capítulo). O Papa
afirma que é preciso tratar os
migrantes com quatro verbos: acolher, proteger, promover e integrar (FT 129). Quando se acolhe com
todo o coração a pessoa diferente, permite-se que mantenha sua identidade, ao mesmo
tempo que se lhe dá a possibilidade dum desenvolvimento novo. Afirma o Papa
Francisco: “Estamos todos no mesmo barco e somos chamados a empenhar-nos
para que não existam mais muros que nos separam, nem existam mais ‘os outros’, mas somente um ‘nós’, do tamanho da humanidade
inteira” (Dia Mundial do
Migrante... 2021).
Quando abordamos o
tema das migrações, faz bem lembrar a Sagrada Escritura que, já no Antigo
Testamento, adverte: “Não distorças o direito do migrante... Lembra-te de
que foste escravo no Egito e que o Senhor, teu Deus, te resgatou dali” (Cf.
Dt 24, 17-18). Ao olharmos para as diversas etnias, presentes em nossa diocese,
poderíamos ler a frase bíblica citada, da seguinte forma: “Lembra-te que os teus antepassados, certamente, também foram migrantes”.
A maioria de nós, certamente, tem no sangue algum sinal de origem migratória.
Nossa Diocese de Santa Cruz do Sul se caracteriza por fortes e diferentes
correntes migratórias continentais do passado: ao norte, predomina a
descendência italiana; no centro, a germânica; ao sul, a açoriana, africana e
polonesa, completando-se com os migrantes atuais, presentes nas diversas
regiões, principalmente haitianos, senegaleses e outros. Alegra-nos que a
pastoral dos migrantes está em organização nas comunidades para acolher, da
melhor forma possível, os nossos irmãos/ãs migrantes.
Ao viver por quase
nove anos como bispo de Uruguaiana, aprendi com nossos irmãos vizinhos do
Uruguai e da Argentina que no mapa de Deus não há fronteira ou, se por acaso
alguma divisa existir, deve ser lugar de encontro e não de separação. É muito
significativo, neste sentido, o que o Papa Francisco propõe ao falar em criar
pontes e não muros de separação, como vimos acima.
Concluímos nossa
mensagem de hoje com a parte final da oração do Papa Francisco pelos migrantes,
em 2021:
“Pedimo-Vos que
concedais a todos os discípulos de Jesus
e a todas as pessoas de
boa vontade
a graça de cumprirem a
vossa vontade no mundo.
Abençoai todo o gesto de
acolhimento e assistência
que repõe a pessoa que
estiver em exílio no ‘nós’ da
comunidade e da Igreja,
para que a nossa terra
possa tornar-se, tal como Vós a criastes,
a Casa comum de todos os
irmãos e irmãs. Amém”.
Dom Aloísio
Alberto Dilli – Bispo de Santa Cruz do Sul