Caros diocesanos. Continuamos a viver a Páscoa, mistério central de nossa vida cristã. A palavra Páscoa significa passagem: passagem da morte de Jesus para a vida nova da ressurreição. Segundo São Paulo, se Cristo não ressuscitou é vã a nossa fé e continuamos em nosso pecado (cf 1Cor 15, 17). A fé na ressurreição, portanto, é decisiva na vida dos seguidores de Jesus Cristo. Os discípulos tiveram que passar por um longo processo de amadurecimento na fé da ressurreição. Para tal, é importante analisar a figura de Tomé, um dos doze: “Se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos, se eu não puser o dedo nas marcas dos pregos, se eu não puser a mão no seu lado, não acreditarei” (Jo 20, 25). Só mais adiante surge o ato de fé: “Meu Senhor e meu Deus!” (Jo 20, 28). O evangelista São João relata com três verbos - entrar, ver, crer - esse processo de crescimento na fé, ao narrar sua ida, junto com Pedro, à sepultura do Senhor: “O outro discípulo, que tinha chegado primeiro ao túmulo, também entrou, viu e acreditou” (Jo 20, 8). Sim, o Apóstolo que Jesus amava também entrou no verdadeiro mistério da morte e ressurreição (Páscoa), contemplou-o em sua profundidade e chegou à graça da atitude da fé. Antes, “eles ainda não tinham compreendido a Escritura segundo a qual ele devia ressuscitar dos mortos” (Jo 20, 9). Esse amadurecimento na fé repete-se na história com os apóstolos de todos os tempos. O processo de conversão é lento e exige perseverança. Agora chegou nossa vez de fazermos a experiência pascal em nossa vida, em nosso tempo, com ou sem ameaça do coronavírus, para sermos também suas testemunhas (Lc 24, 48; Jo 20, 18).
O evangelho da Vigília pascal (cf. Mt 28, 1-10), como igualmente outros textos que narram a ressurreição de Jesus, revelam um misto de temor e de alegria nos diversos personagens que vivem os acontecimentos pascais. As cenas da ressurreição eram bonitas demais para quem vivera a tristeza e a frustração da morte daquele que causara tanta esperança; poderia ser um sonho, uma ilusão: “É um temor misturado com alegria: a alegria de ver Jesus ainda vivo, aliás, transfigurado na sua vida nova, mas também o medo de que seja tudo uma ilusão” (Castellucci E., Com Temor e Grande Alegria, in O Pão Nosso de Cada Dia, abril de 2020, p. 64).
Esta é também a grande aposta da fé cristã: crer no Ressuscitado não é uma ilusão, mas a garantia da vitória da vida sobre a morte, do perdão sobre o pecado, da luz sobre as trevas. A fé no Ressuscitado supera a triste e trágica conclusão sobre o sem-sentido da vida, como do filósofo Jean Paul Sartre, após a 2ª Guerra Mundial: “A vida é uma paixão inútil”. Em tempos de coronavírus, novos ateus podem despontar com frases semelhantes.
No evangelho, a alegria prevalece sobre o temor, mesmo que a fé no Ressuscitado não cancele totalmente os medos e os sofrimentos em nossa vida, mas impede que fiquemos esmagados por eles. Seja esta também a nossa força, neste momento histórico que vivemos, em que a fé não deixa que sejamos derrotados. Se Cristo ressuscitou, então não existe nenhuma morte ou outra situação difícil que não possa tornar-se ponte para a vida eterna. Não encontramos apenas sinais de vida nas alegrias, no bem-estar e quando tudo vai bem, mas também os percebemos nos medos e nas fadigas, no sofrimento e nas ameaças à saúde. A Ressurreição lançou um raio de luz também sobres as trevas mais densas da vida humana. Assim como às mulheres de Jerusalém e aos apóstolos nos é dada a boa notícia: “Não tenhais medo, Ele ressuscitou”.
É dentro desse espírito, cheio de esperança e de sentido para todas as situações de nossa vida, que desejamos aos leitores e ouvintes abençoado e feliz tempo pascal.
Dom Aloísio Alberto Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul