Na quarta-feira de cinzas iniciamos a nossa caminhada de preparação para a Páscoa. Serão 40 dias de contínuo convite à conversão, obtida com a oração, o jejum e a prática da caridade. Em sua mensagem para a quaresma, o papa Francisco pede que façamos destes dias “um percurso de formação do coração”, assemelhando-nos ao coração misericordioso de Deus. “Ter um coração misericordioso”, diz o Papa, “não significa ter um coração débil. Quem quer ser misericordioso precisa de um coração forte, firme, fechado ao tentador, mas aberto a Deus; um coração que se deixe impregnar pelo Espírito e levar pelos caminhos do amor que conduzem aos irmãos e irmãs; no fundo, um coração pobre, isto é, que conhece as suas limitações e se gasta pelo outro”.
A mensagem do Papa tem como enfoque a superação daquilo que ele chama de “globalização da indiferença”. Exemplificando: “Quando estamos bem, esquecemo-nos dos outros e não nos interessam os seus problemas, nem as tribulações e injustiças que sofrem; e, assim, o nosso coração cai na indiferença: encontrando-me relativamente bem e confortável, esqueço-me dos que não estão bem”. Por isso o Papa nos convoca a “enfrentar o mal-estar da indiferença”, pedindo que “as nossas paróquias e as nossas comunidades, se tornem ilhas de misericórdia no meio do mar da indiferença”.
Para nos ajudar no percurso da formação do coração, a Igreja incentiva várias práticas que devem ser valorizadas por quem verdadeiramente quer ser discípulo de Jesus Cristo. O enfoque é a penitência, ressaltada no prefácio da missa: “Pela penitência da quaresma, corrigis nossos vícios, elevais nossos sentimentos, fortificais nosso espírito fraterno e nos garantis uma eterna recompensa”.
As práticas indicadas são “a oração, o jejum e a esmola”.
Traduzindo podemos falar da confissão sacramental, da reflexão nos grupos de família, da oração da via-sacra, do jejum e da abstinência especialmente na quarta-feira de cinzas e na sexta-feira santa, da grande coleta da solidariedade realizada por ocasião do domingo de ramos, da visita aos idosos e enfermos e do aprofundamento do tema da Campanha da Fraternidade que desafia a criar canais de diálogo e colaboração com a sociedade.
Vivamos, pois, este tempo da quaresma com verdadeiro espírito de conversão. Deixemos que a Palavra de Deus nos toque e abramos os olhos às necessidades do próximo, buscando nele “o irmão e a irmã pelos quais Cristo morreu e ressuscitou”. Intensifiquemos nosso sentimento de fraternidade, cientes de que, conforme escrevia Santa Terezinha, “a alegria no céu não é plena enquanto houver, na terra, um só homem que sofre e geme”. Com o Papa Francisco, rezemos a Cristo: “Fazei o nosso coração semelhante ao vosso”.
Dom Canísio Klaus
Bispo Diocesano