Caros diocesanos. Continuamos hoje nossa reflexão sobre a eucaristia que torna o Senhor ressuscitado presente entre nós. No ano da eucaristia em nossa diocese (2019), dentro do processo da Iniciação à Vida Cristã, no espírito catecumenal, estamos aprofundando o tema eucarístico, pois a eucaristia é a celebração central da vida litúrgica da Igreja. Como afirmou o Papa João Paulo II, hoje santo, a Igreja vive da Eucaristia e se torna o núcleo de seu mistério. Ela é a fonte e o centro de toda vida cristã e nela está contido todo o tesouro espiritual da Igreja. Através dela o próprio Cristo eterniza seu mistério pascal em todos os tempos.
A espiritualidade eucarística revela diversos aspectos ou dimensões em sua unidade indivisível: ela nasce numa Ceia pascal que torna presente o Sacrifício da Cruz e a gloriosa Ressurreição de Jesus Cristo (Páscoa), fazendo acontecer a oferta da ação salvadora do Filho Unigênito, como a maior Ação de Graças possível ao Pai. Assim continua a atuar-se pela eucaristia a salvação da humanidade, tornando-se ela também a fonte e ápice de toda evangelização da Igreja. Viver uma espiritualidade de Jesus eucarístico significa comungar sua vida, dada em sacrifício redentor, tornando-nos com Ele e os irmãos uma verdadeira oblação e ação de graças ao Pai, em nossa missão evangelizadora.
Hoje abordaremos a dimensão eucarística de ação de graças, sem excluir os demais aspectos:
A Berakáh é uma forma de oração judaica, de louvor e de agradecimento, muito comum no Antigo Testamento: Normalmente inicia com a clássica forma: “Bendito seja Deus que...”. Ela é recitada, sobretudo, diante de fatos maravilhosos realizados por Deus; assim fazia parte da ceia pascal judaica, como primeiro gesto ritual, para agradecer a libertação do povo de Israel da escravidão do Egito.
Com o sacrifício de Cristo, único e eterno, a Berakáh adquiriu um novo sentido e um novo conteúdo: ação de graças pela redenção pascal da nova e eterna Aliança. A Igreja, pela Eucaristia (Oração eucarística), celebra essa Ação de graças, do “nascer ao pôr do sol” (Oração Eucarística III) e pelos séculos afora. Assim atua-se a grande e maior ação de graças possível ao Pai pela doação pascal de seu Filho, na unidade do Espírito Santo (Ação trinitária): “Por Cristo, com Cristo, em Cristo a vós, Pai Todo-poderoso, na unidade do Espírito Santo, toda a honra, toda a glória, agora e para sempre”.
Essa dimensão da espiritualidade eucarística conduzirá a um coração grato e provocará atitudes de gratuidade e de solidariedade para com os que nos cercam: “gloria Dei homo vivens = A glória de Deus é a vida da pessoa humana” (Sto. Irineu – séc. II). Resultará em gestos concretos de adoração (presença real e permanente) e de respeito e nobre decoro em relação aos locais e objetos preciosos relacionados com a eucaristia; seja também de respeito pela dignidade pessoal e dos irmãos e irmãs que vivem ao nosso lado, sobretudo os necessitados, através dos quais o Senhor também se manifesta. A solenidade de Corpus Christi destaca de forma especial a dimensão do louvor e da ação de graças, sem dispensar as demais, também sempre presentes em todas as celebrações ou manifestações eucarísticas.
Dom Aloísio Alberto Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul