Caros diocesanos. Estamos vivendo um tempo muito bonito e especial, caracterizado pela expectativa do Natal e do final de mais um ano. As crianças já contam os dias que faltam para as alegrias do Natal; os adultos se programam para nada faltar: enfeites, presentes, comidas típicas, bebidas especiais, encontros familiares e com amigos, etc. Mas o que mesmo nós vamos celebrar? Deve ser um acontecimento extraordinário, para que haja tanta preocupação e movimento, tanto anúncio e propaganda, tanta promessa de felicidade e bem-estar. Para nós, a resposta só pode ser cristã: celebramos o nascimento de Jesus Cristo, o Filho de Deus, que assumiu nossa condição humana. Deus veio morar entre nós: “Jesus é o rosto humano de Deus e o rosto divino do homem” (DAp 392). É o mistério da encarnação, em que o divino vem unir-se ao humano, para dar sentido e valor a tudo o que envolve nossa vida. Para fazer de nossa vida uma história de salvação.
A Igreja, através de sua experiência milenar, encontrou maneiras de preparar suas festas principais. Por isto instituiu o Advento, como tempo propício de preparação, que antecede o Natal do Senhor. A palavra “Adventus”, do latim, era usada por ocasião da vinda de um personagem importante, de um herói, de um imperador ou outras figuras de destaque. Nosso personagem é Jesus Cristo, o Salvador que veio morar entre nós. Este Jesus já veio, historicamente, há mais de dois mil anos, mas Ele deseja estar entre nós em todos os tempos. O hoje do anúncio dos anjos aos pastores, na noite do nascimento em Belém (cf. Lc 2, 10-11), continua sendo atual, sobretudo na liturgia celebrada. Celebrar é tornar presente este mistério da fé no hoje do tempo, como bem lembra o subsídio de Natal do Regional Sul 3. O cristão não admite que o Natal seja apenas uma festa profana, sem a presença de Jesus Cristo, como personagem principal. Sem o encontro com Ele o Natal é fictício, vazio, com pouco ou nenhum sentido. Por isso, o Natal não pode ser simplesmente substituído pela figura do Papai Noel ou pelas festas, das quais por vezes parece não se saber o verdadeiro motivo.
Jesus Cristo virá uma segunda vez, no fim dos tempos, quando ele será tudo em todos. Neste contexto surge a palavra “Maranatha” = Vem, Senhor (cf. 1Cor 16, 22 e Ap 22, 20). A liturgia da Igreja fala, durante o Advento, na preparação de duas vindas do Senhor: a primeira, acontecida com o nascimento de Jesus, em Belém, que é tornada presente no Natal. A segunda, celebrada como expectativa da vinda de Cristo no fim dos tempos. Por este duplo motivo, o Advento se apresenta como um tempo de piedosa e alegre expectativa, como nos ensina a liturgia da Igreja. Enquanto estamos na espera de alguém, já começamos a ficar felizes antes, como afirma a raposa ao Pequeno Príncipe: “Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração” (A. Saint-Exupéry).
A liturgia nos ensina que este tempo do Advento deve ser de oração, de vigilância, de esperança, de expectativa, de preparação e de acolhimento. Neste tempo os cristãos fazem a experiência de serem peregrinos, sentindo-se a caminho. Percebem que a Igreja é a comunidade da esperança. Já vive a realidade do Emanuel = Deus conosco, mas sabe e crê que virá o dia em que veremos Deus, face a face (cf. 1Cor 13, 12). Por isso, na atual história, ela vive à espera do definitivo. Vive na vigilância e na alegria, enquanto reza com a liturgia: “Maranatha” – Vem, Senhor Jesus!
Dom Aloísio Alberto Dilli - Bispo de Santa Cruz do Sul