Caros diocesanos. O Papa Francisco nos convidou a viver o jubileu extraordinário, anunciado pela bula Misericordiae Vultus (O Rosto da Misericórdia). Estamos chegando ao final desta rica experiência do Ano santo, que se estende até a solenidade de Cristo Rei do Universo (20/11/16).
Segundo o Pontífice, a fé cristã encontra sua síntese ao proclamar que Jesus Cristo é o rosto da misericórdia do Pai: “Tal misericórdia tornou-se viva, visível e atingiu o seu clímax em Jesus de Nazaré” (n. 1). Sua vida é expressão da misericórdia divina. Como diz a própria etimologia da palavra misericórdia: Deus coloca seu coração junto à miséria humana (miseri + córdia). A misericórdia é a palavra-chave para compreender o ser e o agir de Deus conosco.
A misericórdia é colocada no evangelho como critério de credibilidade na relação fraterna dos seguidores de Jesus, tanto no anúncio quanto no testemunho: “Tal como Ele é misericordioso, assim somos chamados também a sermos misericordiosos uns com os outros” (n. 9). Por isso o lema do Ano Santo reza: “Misericordiosos como o Pai” (n. 14). O Papa afirma que onde houver a presença da Igreja, aí deve existir a misericórdia do Pai. A misericórdia é como a identidade de Deus e, conseqüentemente, dos cristãos. O que Deus fez comigo ou conosco deve tornar-se o fundamento e o critério da minha ou da nossa relação com os outros. Jesus não ensina a simplesmente amar o próximo como a si mesmo (cf. Mt 22, 39), mas a amar-nos uns aos outros como Ele nos amou (cf. Jo 13, 34). O perdão é o coração da vida cristã: torna-nos filhos do Pai e irmãos dos semelhantes. Quem faz a experiência pessoal desse amor, dessa misericórdia divina, quer irradiar compaixão, ternura, solidariedade... A experiência da misericórdia não nega a realidade do mal praticado, que precisa de conversão, de mudança de atitude, de nova vida. No campo da misericórdia e do perdão, damo-nos conta que a convivência fraterna nas comunidades, nas famílias, nos grupos sociais, só é possível, não porque ninguém erra, mas porque as pessoas se perdoam e são perdoadas. O mal é diabólico (diabolein = dividir): divide, isola. O perdão une (simbolein = unir duas partes), religa, reata as partes separadas.
O documento papal privilegia a atenção às periferias existenciais: “Abramos os nossos olhos para ver as misérias do mundo, as feridas de tantos irmãos e irmãs privados da própria dignidade... Que seu grito se torne o nosso e, juntos, possamos romper a barreira de indiferença” (n. 15). Há tantos irmãos, assim como nós, que precisam de misericórdia. O Papa recomenda ainda a busca do sacramento da reconciliação e outras formas para voltar mais ao Senhor e experimentar a grandeza da sua misericórdia, pois o perdão de Deus não conhece limites.
“Com a Mãe e Rainha, misericordiosos como o Pai”, acompanhemos a 40ª Romaria ao Santuário de Schoenstatt, no final deste Ano Santo, para podermos redescobrir a alegria da ternura e da misericórdia de Deus: o Ano Santo se conclui, mas a misericórdia permanece para sempre.
Dom Aloísio Alberto Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul